quinta-feira, 18 de julho de 2019

Nova Gramática da Língua Portuguesa - Pronome

Observe o exemplo abaixo:
Quem poderia comprar todos estes meus livros que eu adquiri numa promoção em São Paulo?

Perceba que todos os elementos grifados acima ou estão no lugar do substantivo ou estão acompanhando um substantivo.
O “quem” exerce a função de sujeito da primeira oração; função típica e própria do substantivo.
Os elementos “todos”, “estes” e “meus” se referem ao substantivo “livros”, trazendo, respectivamente, as noções de “cada um”, de “localização espacial” e de “posse”.
O elemento “que” retoma e substitui, ao mesmo tempo, o substantivo “livros”.
Por fim, o elemento “eu” representa o sujeito do verbo “adquirir”. Exerce, portanto, função própria do substantivo.

Definição:
A partir do exemplo dado, podemos dizer que a classe de palavra variável que substitui, retoma ou acompanha o substantivo é denominada de pronome.

Como o adjetivo, o numeral e o artigo também são classes morfológicas que acompanham o substantivo, podemos afirmar que a grande distinção entre estes e o pronome se dá pelo fato deste último situar o substantivo numa pessoa do discurso.
As pessoas do discurso são:
o ser que fala – 1.ª pessoa (eu e nós)
o ser com quem se fala – 2.ª pessoa (tu e vós)
o ser (ou coisa) de quem ou de que se fala – 3.ª pessoa (ele e eles)

Logo, é possível também se definir “pronome” como a classe morfológica que substitui, retoma e acompanha o substantivo, situando-o numa pessoa do discurso.

De acordo com as afirmações iniciais, podemos classificar de antemão os pronomes em: substantivos e adjetivos.

Pronome substantivo, como o próprio nome já o diz, é aquele que se põe no lugar do substantivo e passa a exercer uma função típica deste.
Pronome adjetivo, por outro lado, é aquele que acompanha o substantivo, atribuindo-lhe informações acessórias.

Classificação dos pronomes:
Os pronomes se classificam de acordo com suas funções em:
Pronomes pessoais (retos, oblíquos e de tratamento)
Pronomes demonstrativos
Pronomes indefinidos
Pronomes possessivos
Pronomes relativos
Pronomes interrogativos

Pronomes pessoais: São assim denominados os pronomes que indicam diretamente as pessoas gramaticais: o falante (1.ª pessoa), o ouvinte (2.ª pessoa) e o que não toma parte na conversa (3.ª pessoa). São classificados em retos, oblíquos e de tratamento.

PRONOMES PESSOAIS
RETOS OBLÍQUOS Átonos Tônicos
EU ME MIM, COMIGO
TU TE TI, CONTIGO
ELE O, A, LHE, SE SI, CONSIGO, ELE, ELA
NÓS NOS NÓS, CONOSCO
VÓS VOS VÓS, CONVOSCO
ELES OS, AS, LHES, SE SI, CONSIGO, ELES, ELAS

Emprego dos pronomes pessoais retos:

A princípio, convém dizer que os pronomes são denominados de “retos” porque exercem função subjetiva, ou seja, funcionam como sujeito, predicativo do sujeito ou vocativo (apenas nos pronomes tu e vós). Por outro lado, são denominados de oblíquos os pronomes que exercem função complementar, ou seja, exercem funções de complemento verbal (objeto direto ou indireto), complemento nominal, agente da passiva, adjunto (adnominal ou adverbial) e ainda sujeito de uma oração reduzida (antigamente chamado de sujeito acusativo).

Importante também perceber que a força de tonicidade do pronome interfere no seu emprego. Os pronomes tônicos, por exemplo, são sempre usados precedidos de uma preposição, fato que não se dá com os átonos, os quais repelem a presença de uma preposição essencial que os reja.

Os pronomes do caso reto “eu” e “tu” só aparecem como sujeito, salvo raras exceções. Por isso, os tais pronomes nunca ocorrerão regidos por preposição. O objeto pode vir preposicionado, mas o sujeito não é preposicionável.

Os pronomes “eu” e “tu” podem, excepcionalmente, aparecer nas funções de “predicativo do sujeito” e “vocativo”, respectivamente. Entre vírgulas, os pronomes eu, ele, ela, nós, eles e elas podem aparecer na função de aposto.

No português falado no Brasil, o pronome “tu” foi praticamente substituído pelo pronome de tratamento “você”. Importante destacar, ademais, que o “você” se refere à 2.ª pessoa do discurso, mas exige o verbo da concordância sempre na 3.ª pessoa do singular.

Em algumas regiões do Brasil, o falar coloquial emprega o “tu” com o verbo flexionado na terceira pessoa do singular: “Tu foi...”, “Tu vai...”, “Tu sabe...”. Tais construções são, como já se disse, típicas da linguagem coloquial e jamais devem ser empregadas em processos comunicativos que exigem o padrão culto da língua.

Na linguagem oral, é bastante comum a substituição do pronome de primeira pessoa do singular “eu” pelo pronome de primeira pessoa do plural “nós”. Essa troca visa dar à mensagem um tom menos arrogante, menos presunçoso. É o que se denomina de “plural de modéstia”.

É bastante comum na linguagem coloquial a substituição do pronome do caso reto “nós” pela forma “a gente” (separado). Tal substituição, repita-se, é típica da linguagem coloquial

Emprego dos pronomes pessoais oblíquos:

Os pronomes “ele, ela, nós, vós, eles e elas”, por possuírem força tônica, podem também aparecer em função oblíqua. Neste caso, eles virão obrigatoriamente regidos por uma preposição

 É construção tipicamente coloquial o emprego dos pronomes “ele, ela, eles, elas” em função complementar desprovidos de preposição. Os pronomes “ele, ela, eles, elas”, quando funcionam como complemento, podem se contrair com as preposições “de” e “em”.

Percebemos, portanto, que, quando há a presença de uma preposição essencial, deve-se – obrigatoriamente – usar os pronomes pessoais tônicos, já que os pronomes átonos são insuscetíveis de virem regidos por preposição.

Os pronomes “si” e “consigo” são oblíquos tônicos reflexivos ou recíprocos e só devem ser usados com referência ao próprio sujeito da oração ou a dois ou mais sujeitos, só devem ser usados na voz reflexiva ou na voz reflexiva recíproca. Considera-se erro, portanto, construções em que os pronomes “si” e “consigo” não se refiram ao sujeito.

Os pronomes “comigo, contigo, consigo, conosco, convosco” já trazem em si mesmos a preposição “com”, pois são o resultado da combinação desta preposição com a formas oblíquas da primeira, da segunda e da terceira pessoa do singular e do plural.

Os pronomes “conosco” e “convosco” devem ser substituídos pelas suas formas analíticas “com nós” e “com vós”, respectivamente, quando há a presença de um reforço do pronome por meio de adjunto adnominal. Geralmente, esse reforço se dá com os vocábulos mesmos, próprios, todos, outros, ambos, algum numeral, aposto explicativo ou oração subordinada adjetiva.

Os pronomes oblíquos átonos “me, te, se, nos, vos” são empregados como complementos tanto de verbos transitivos diretos quanto de verbos transitivos indiretos. Podem, portanto, funcionar como objeto direto (caso acusativo em latim) ou objeto indireto (caso dativo em latim), a depender da regência verbal.

Já os oblíquos “o, a, os, as” são usados como complementos para verbos transitivos diretos e verbos transitivos diretos e indiretos em sua parte direta. Funcionam, pois, como objetos diretos. São, por isso, denominados de pronomes acusativos, já que em latim a função acusativa diz respeito ao objeto direto. Tais pronomes equivalem aos oblíquos tônicos preposicionados “a ele, a ela, a eles, a elas”

Os pronomes “o, a, os, as”, quando estão enclíticos a verbos terminados em “-r, -s, - z”, assumem as formas “lo, la, los, las” e a forma verbal perde aquelas consoantes. Quando enclíticos a verbos terminados em ditongo nasal, assumem as formas “no, na, nos, nas”.

Os pronomes oblíquos “lhe, lhes” substituem termos que exigem preposição. Quando completam verbos, funcionam como objetos indiretos de verbos transitivos indiretos e de verbos transitivos diretos e indiretos em sua parte indireta. Referem-se, portanto, ao caso dativo do latim. Estes pronomes também equivalem aos oblíquos tônicos preposicionados “a ele, a ela, a eles, a elas”.

Os pronomes “me, te, lhe, nos, vos” podem fazer a vez de legítimos pronomes possessivos. Equivalem, respectivamente, a “meu / minha, teu / tua, seu / sua, dele / dela, nosso / nossa, vosso / vossa e plurais”. Não exercem a função de objeto indireto, mas sim de adjunto adnominal.

Pronomes de tratamento:

Uma divisão interessante dos pronomes pessoais é a dos pronomes de tratamento. São assim denominados porque se usam tais pronomes em referência a certas pessoas consideradas autoridades ou em certos contextos comunicativos quando a formalidade os exige. Esses pronomes iniciam-se pelo possessivo feminino ''vossa'' seguido de uma palavra feminina.

Principais pronomes de tratamento e seus respectivos empregos:

Pronome de tratamento Abreviatura Emprego
você, vocês v. tratamento familiar, informal
senhor, senhores Sr. Sr. es tratamento respeitoso
senhorita, senhoritas Sr. ta , Sr. tas para mulheres solteiras
senhora, senhoras Sr. a , Sr. as tratamento respeitoso
Vossa Senhoria, Vossas Senhorias V.S. a , V. S. as para pessoas que exercem cargos importantes (diretores e presidentes de empresas, vereadores, secretários, chefes, diretores de autarquias etc.)
Vossa Excelência, Vossas Excelências V. Ex. a , V. Ex. as para autoridades superiores (presidentes, juízes, deputados, senadores, governadores, prefeitos, ministros etc.)
Vossa Eminência, Vossas Eminências V. Em. a , V. Em. as para cardeais
Vossa Alteza, Vossas Altezas V.A., VV.AA. para príncipes, princesas, duques e duquesas
Vossa Majestade, Vossas Majestades V.M., VV.MM. para reis, rainhas, imperadores e imperatrizes
Vossa Meritíssima Por extenso juízes de direito
Vossa Magnificência, Vossas Magnificências V. Mag. a , V. Mag. as reitores de universidades e outras instituições de ensino superior
Vossa Reverendíssima, Vossas Reverendíssimas V.Rev. ma , V. Rev. mas sacerdotes religiosos, bispos, padres, pastores
Vossa Santidade V.S. papa e Dalai Lama

Em uma correspondência oficial, o vocativo deverá sempre ser usado com a palavra Senhor, seguido do cargo ocupado pela autoridade: Senhor Presidente, Senhor Ministro, Senhor Diretor, Senhor Reitor, etc. O uso da vírgula é obrigatório.

Os pronomes de tratamento são pronomes que se referem à 2.ª pessoa do discurso. Entretanto, exigem a concordância verbal na 3.ª pessoa. Ademais, devem também ficar na 3.ª pessoa todos os elementos que a tais pronomes se refiram.

Tais fórmulas de tratamento só são consideradas pronomes de tratamento quando vêm antecedidas de “Sua” ou “Vossa”. Desprovidas de tais partículas, tornam-se, no mais das vezes, meros “substantivos femininos” ou “adjetivos”.

Emprega-se “Sua” quando nos referimos à pessoa. Por outro lado, empregamos “Vossa” quando nos dirigimos à pessoa.

Pronomes demonstrativos:

Outra categoria bastante usual na língua portuguesa é a dos pronomes demonstrativos. São denominados demonstrativos porque situam as pessoas ou coisas no tempo ou no espaço, postas em relação às pessoas do discurso. Os pronomes demonstrativos apresentam formas variáveis e invariáveis.

Pronomes demonstrativos Variáveis Invariáveis Masculinos Femininos
1.ª pessoa este, estes esta, estas isto
2.ª pessoa esse, esses essa, essas isso
3.ª pessoa aquele, aqueles aquela, aquelas aquilo

Além dos pronomes acima, são igualmente demonstrativos os seguintes pronomes: “mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s), tal, tais, semelhante(s)”.

Emprego dos pronomes demonstrativos:

O emprego dos pronomes demonstrativos representa um dos pontos mais discutidos pelos estudiosos da língua, já que em muitos escritores encontram-se empregos controvertidos dos tais pronomes. Para facilitar o entendimento, dividimos o emprego dos demonstrativos em relação a três aspectos: localização espacial do referente, localização temporal do referente e localização textual do referente.

Quanto à localização espacial do referente temos as seguintes orientações:

Empregam-se “este, esta, isto e variações” quando o referente se encontra com o ser que fala.

Empregam-se “esse, essa, isso e variações” quando o referente se encontra próximo, perto de quem fala.

Empregam-se “aquele, aquela, aquilo e variações” quando o referente se encontra distante do ser que fala.

Quanto à localização temporal do referente, temos as seguintes orientações:

Empregam-se “este, esta, isto e variações” quando se faz referências a um tempo presente em relação à pessoa que fala.

Empregam-se “esse, essa, isso e variações” quando se faz referências a um tempo passado ou futuro em relação à pessoa que fala.

Empregam-se “aquele, aquela, aquilo e variações” quando se faz referências a passado distante em relação ao ser que fala.

Quanto à localização textual do referente, temos as seguintes orientações:

Empregam-se “esse, essa, isso e variações” para retomar termos e informações já mencionados. Tais pronomes funcionarão como “elementos de coesão referencial anafórica”.

Empregam-se “este, esta, isto e variações” para antecipar termos e informações que ainda vão ser mencionados. Tais pronomes funcionarão, portanto, como “elementos de coesão referencial catafórica”.

Empregam-se “este, esta, isto e variações” para retomar, dentro de um período, o termo mais próximo, ou seja, o enunciado em segundo lugar, a fim de se evitar uma possível ambiguidade que os demonstrativos “esse, essa, isso e variações” poderiam gerar. Por outro lado, empregam -se “aquele, aquela, aquilo e variações” para retomar, dentro do período, o termo mais distante, ou seja, o enunciado em primeiro lugar.

Empregam-se – indistintamente – os pronomes “esse, essa, isso, este, esta, isto e variações” para retomar termos e ideias anteriormente expressos, mormente quando o elemento retomado se encontra imediatamente atrás de tais pronomes.

Outras observações acerca dos pronomes demonstrativos:

A contração “nisto” (em vez de “nisso”) é frequentemente empregada em função circunstancial com o sentido de “nesse momento”, “então”, “em tal momento”.

Os demonstrativos “aquele/aquilo, aquela, aqueles e aquelas” podem aparecer em forma reduzida “o, a, os e as”, respectivamente. Estes são usados em função substantiva e são seguidos de preposição ou de uma oração adjetiva encabeçada pelo relativo “que”. Eles também aparecem em construções com o verbo “ser”.

Observação:
O artigo definido, ausente o substantivo, converte-se em pronome demonstrativo, com o sentido de “aquele, aquela, aquilo, isso”. Isto ocorre quando o “o” vem seguido de preposição, do pronome relativo “que” ou construído com o verbo “ser”.

Os pronomes “mesmo” e “próprio” serão demonstrativos quando possuírem sentido de “exato”, “idêntico”, “em pessoa”.

“Tal” será pronome demonstrativo quando equivaler aos demonstrativos “este, esse, aquele e flexões”.

A tradição e o uso consagraram a expressão “isto é” (e nunca “isso é”) equivalente a “quer dizer”, “significa”, quando se vai esclarecer um pensamento, uma ideia.

Como conjunção conclusiva, usa-se, hoje, mais frequentemente “por isso” em vez de “por isto”, a despeito de esta última forma não estar errada.

“Semelhante” será pronome demonstrativo quando equivaler a “tal”.

É condenável o emprego dos demonstrativos “mesmo(s), mesma(s)” em função substantiva. Tal fato se dá, porque não são próprias de tais pronomes funções como “sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal etc.”. Esses pronomes têm função adjetiva ou neutra, fato líquido e certo, porque são funções próprias desses pronomes retomar uma oração ou reforçar algo dito anteriormente.

Pronomes indefinidos:

São denominados indefinidos os pronomes que se referem à 3.ª pessoa do discurso quando esta tem sentido vago e indeterminado. Apresentam-se na língua portuguesa em um bom número – alguns são invariáveis e outros tantos variáveis.

INDEFINIDOS INVARIÁVEIS INDEFINIDOS VARIÁVEIS
– alguém, ninguém; – tudo, nada; – algo; – cada; – outrem; – mais, menos, demais.
– algum, alguns, alguma, algumas; – nenhum, nenhuns, nenhuma, nenhumas;
– todo, toda, todos, todas; – muito, muitos, muita, muitas; – pouco, pouca, poucos, poucas;
– certo, certa, certos, certas; – vário, vários, vária, várias; – tanto, tantos, tanta, tantas;
– quanto, quantos, quanta, quantas; – um, uns, uma, umas; – bastante, bastantes;
– qualquer, quaisquer.

Nota: Segundo o VOLP e alguns dicionários, as palavras fulano, sicrano e beltrano são substantivos, e não pronomes indefinidos. No entanto, Domingos Paschoal Cegalla, na Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, afirma ser indefinidos.

Além dos indefinidos acima, existem as chamadas “locuções pronominais indefinidas”, que nada mais são do que a junção de mais de um vocábulo com função de um pronome indefinido. São exemplos dessas locuções: cada um, cada qual, qualquer outro, quem quer que seja, fosse quem fosse, outro qualquer, todo aquele que, tudo o mais, seja qual for, um ou outro, todo o mundo etc.

Considerações gerais sobre os pronomes indefinidos

Os pronomes e as locuções indefinidos exigem, quando estão no singular, que o verbo da concordância fique também no singular.

Os pronomes indefinidos podem acompanhar o substantivo – pronomes indefinidos adjetivos – ou substituir o próprio substantivo – pronomes indefinidos substantivos.

Emprego dos pronomes indefinidos:

Qualquer:

“QUALQUER” só será pronome indefinido quando vier anteposto ao substantivo – neste caso, equivalerá a “algum(ns) / alguma(s)”. Refere-se, portanto, a um indivíduo ou indivíduos tomados indistintamente dentre outros da mesma espécie. Quando posposto, exercerá a função morfológica de adjetivo e apresentará geralmente sentido depreciativo.

Todo:

“TODO” é um indefinido, chamado por alguns gramáticos de “coletivo universal”. Possui as flexões “toda, todos, todas”. É empregado de acordo com as seguintes orientações: É hodierna e frequentemente empregado no singular, sem a presença de artigo definido, com a significação de “qualquer”.

Observação: Há gramáticos – notadamente os mais antigos – que não aceitam essa acepção do pronome indefinido “todo”, pois só admitem o emprego do pronome indefinido “todo” com o sentido de “totalidade”.

Embora haja posicionamentos contrários, pode também ser empregado no singular e anteposto a substantivo precedido ou não de artigo, significando “totalidade ou cada”.

Observação: Há gramáticos que, nesta acepção, só defendem o sentido do pronome “todo” como “cada”. Não encontramos, entretanto, apoio nos maiores conhecedores de nossa língua. Para eles, dentre os quais podemos destacar os mestres Manuel Said Ali e Mário Barreto, o pronome “todo”, anteposto a um substantivo, pode ou não aparecer com o artigo.

Emprega-se no singular e posposto a um substantivo para indicar a totalidade das partes.

Emprega-se no plural, anteposto ou posposto, para indicar a totalidade numérica.

Emprega-se, acompanhando adjetivo atributivo, com o significado de “em todas as suas partes”, “completamente”, “muito”. Nesta acepção, a palavra “todo” exerce função de advérbio e admite flexão.

Portanto, fique atento, pois podemos dizer corretamente (saliente-se que a forma flexionada, a qual concorda por atração com o substantivo, é mais comum na linguagem atual):

Tudo:

O pronome “TUDO” representa a forma neutra do pronome “TODO”. Pode aparecer tanto como pronome substantivo quanto como pronome adjetivo. Como pronome adjetivo aparece em combinações do tipo “tudo isso, tudo aquilo, tudo o que, tudo o mais etc.”. Geralmente se refere a coisas, mas no português contemporâneo, aplica-se também a pessoas.

Algum:

O pronome indefinido “ALGUM” emprega-se de acordo com as seguintes orientações:

Anteposto ao substantivo assume frequentemente valor positivo de “qualquer, um”.

Anteposto ao substantivo, assume também o valor de “certo, um pouco de”.

Com valor negativo, equivale a “nenhum”, quando posposto ao substantivo.

Na linguagem popular, significa ''dinheiro''.

Certo:

Este vocábulo só será pronome indefinido quando vier anteposto a um substantivo. Posposto ao substantivo, assume valor adjetivo, equivalendo a “verdadeiro, infalível, exato, fiel, que não falta, constante”.

Observação:
O vocábulo “CERTO” apresenta também função circunstancial (adverbial). Neste caso, equivalerá a “certamente”.

Outro:

É um pronome, cuja indefinição se encontra fora do âmbito do falante e do ouvinte. Tal indefinição o faz equivaler a “alguém, algo”. Geralmente aparece em expressões indefinidas “um ao outro, um do outro, um para o outro”.

O vocábulo “outro” também pode ser empregado com valor adjetivo. Neste caso, apresentará o significado de “novo”, “diferente”, “mudado”, “semelhante”, “igual”.

Cada:

É um pronome indefinido invariável. Designa os seres ou grupos de seres considerados um por um. Geralmente, aparece em expressões indefinidas “cada um, cada qual”. É sempre pronome adjetivo, sempre acompanha um substantivo, não é pronome substantivo, portanto não o substitui. Configura um distributivo invariável, que se une com qual, para formar o pronome cada qual, e com um na forma composta cada um, que raramente vem acompanhada de substantivo claro

Pronomes possessivos:

São denominados possessivos os pronomes que estabelecem uma noção de posse em referência às pessoas do discurso (1.ª, 2.ª e 3.ª), isto é, designam a pessoa gramatical a quem pertence o ser.

Pronomes possessivos
Singular 1.ª pessoa meu, minha, meus, minhas
              2.ª pessoa teu, tua, teus, tuas
              3.ª pessoa seu, sua, seus, suas
Plural 1.ª pessoa nosso, nossa, nossos, nossas
           2.ª pessoa vosso, vossa, vossos, vossas
           3.ª pessoa seu, sua, seus, suas

Dele(s), dela(s) não é pronome possessivo.

Emprego dos pronomes possessivos:

Em geral, os pronomes possessivos adjetivos facultam a anteposição de um artigo (determinante).

Quando o pronome possessivo é empregado substantivamente, a presença do artigo ou de outro determinante que o substitua é indispensável.

Na língua portuguesa, os pronomes possessivos concordam em gênero e número com a coisa possuída e em pessoa com o possuidor.

Geralmente não se emprega o pronome possessivo antes de nomes que indicam partes do corpo, peças de vestuário e faculdades do espírito, quando se referem ao próprio sujeito. Nesse caso, o uso do artigo já indica posse.

A palavra casa, quando significa lar próprio, dispensa o possessivo. Porém, quando se deseja dar ênfase à expressão, empregar-se-á o possessivo.

Os pronomes “me, te, lhe, nos, vos, lhes” podem fazer as vezes de possessivos. Neste caso, eles equivalerão aos pronomes possessivos “meu, minha, teu, tua, seu, sua, nosso, vosso, dele, dela etc.”. Exceção feita aos pronomes ''se, o, a, os e as''.

Observação:
Esta substituição é bastante elegante do ponto de vista estilístico.

Os pronomes possessivos são usados, em muitos casos, não para indicar posse, mas sim afetividade, respeito, cortesia, cálculo aproximado ou indeterminação numérica, ação habitual, predileção e também ofensa, descortesia e até ironia.

Os possessivos “seu, sua, seus, suas” podem gerar ambiguidade quando há na estrutura oracional mais de uma terceira pessoa. Neste caso, convém substituí-los por “dele, dela, deles, delas”.

Observação:
Para evitar esse processo de ambiguidade, muitos escritores usavam os possessivos “dele, dela, deles, delas” a fim de esclarecer a relação possessória.

Em alguns casos, a mudança de posição do pronome possessivo implicará alteração de sentido do enunciado.

Empregam-se alguns possessivos no plural com o sentido de “parentes”, “família”.

Pronomes relativos:

São denominados de relativos os pronomes que representam um ser já expresso (antecedente). Entretanto, só isso não basta para caracterizá-los, uma vez que outros pronomes também o fazem. A principal característica do pronome relativo é servir de vínculo gramatical entre duas orações, estabelecendo uma relação de subordinação. Daí serem também chamados tais pronomes de “relativos-conjuntivos”. Introduzem sempre orações subordinadas adjetivas restritivas ou explicativas, desde que não sejam reduzidas, e sim desenvolvidas.

Os principais pronomes relativos são:

PRONOMES RELATIVOS INVARIÁVEIS VARIÁVEIS
que o qual, a qual, os quais, as quais
quem cujo, cuja, cujos, cujas
onde quanto, quanta, quantos, quantas

Observação:
Funcionam também como pronomes relativos os vocábulos “como” e “quando”, quando retomam termos anteriormente mencionados.

Emprego dos pronomes relativos:

Que:

É denominado de “relativo universal”, porque se refere tanto a coisas quanto a pessoas. Seus equivalentes variáveis são “a qual, o qual, as quais, os quais”. O relativo “que” só deve ser substituído por outro relativo em casos específicos.

Quem:

No português moderno, este pronome só se refere a pessoas ou a cousas personificadas, daí ser chamado de “relativo personativo”. Com antecedente expresso, vem sempre regido por uma preposição.

Em algumas orações o pronome relativo “quem” pode aparecer sem antecedente expresso. Neste caso, ele equivalerá a “aquele que”. Por equivaler – ao mesmo tempo – a um pronome demonstrativo e a um pronome relativo, o relativo “quem” é denominado de “relativo condensado”. Nesse caso, só pode introduzir uma oração adjetiva restritiva; a oração adjetiva explicativa está sempre relacionada a um antecedente cujo significado se expande.

Onde:

É denominado de “relativo locativo”, pois só é utilizado para retomar e substituir termos que contenham a noção de “lugar”. Equivale a “em que” e variações (na qual, no qual, nas quais, nos quais). O seu antecedente, portanto, deve indicar “lugar”

O qual, a qual, os quais, as quais:

São os relativos que possuem as variações em gênero e número correspondentes ao pronome relativo “que”. Esses relativos devem obrigatoriamente substituir o “que” quando este provocar ambiguidade, for precedido por uma preposição com mais de uma sílaba ou for eufonicamente melhor.

Cujo, cuja, cujos, cujas:

São relativos utilizados para substituir termos que expressam noção de posse ou de pertinência. Equivalem a “do qual, da qual, dos quais, das quais, seu, sua, seus suas, dele, dela, deles, delas”. Eles retomam um termo antecedente, mas concordam em gênero e número com o substantivo consequente (ou posposto). Não admitem a posposição de artigo e sempre exercem a função sintática de adjunto adnominal. O relativo “cujo” e suas flexões trazem implícita a preposição “de”.

Quanto, quanta, quantos, quantas:

Estas palavras são denominadas de pronome relativo “quantitativo”, pois só serão consideradas pronomes relativos quando vierem antecedidas por um dos seguintes pronomes indefinidos “tudo, todo(a), todos(as)”. Transmitem ideia acessória de quantidade, de intensidade ou de número.

Como:

É denominado de pronome relativo “modal”, pois sempre apresenta como antecedente um nome denotador de “modo, maneira, forma, jeito”. É facilmente substituível por “segundo o qual” ou “pelo qual”, “segundo a qual” ou “pela qual”.

Quando:

É denominado pronome relativo “temporal”, pois será pronome relativo quando possuir como antecedente um substantivo que exprima tempo ou divisões da duração, como segundo, minuto, hora, dia, semana, quinzena, mês, bimestre, trimestre, semestre, quadrimestre, biênio, ano, triênio, quadriênio, quinquiênio, década, século, milênio, trezena, novena, quarentena, lustro, e nessa hipótese equivalerá a “em que”

Observações gerais sobre os pronomes relativos:

Os pronomes relativos promovem a chamada “coesão referencial anafórica”, pois retomam termos anteriormente mencionados.

Para um maior aprofundamento deste tema, sugerimos correlacionar este estudo com o estudo do “pronome relativo preposicionado”, que é abordado no capítulo “regência verbal e nominal”.

Pronomes interrogativos:

Na verdade, não existem pronomes exclusivamente interrogativos. São denominados ''pronomes interrogativos'' os pronomes indefinidos “que, quem, qual e quanto”, quando empregados em orações interrogativas diretas e indiretas. Tais pronomes se referem a pessoa ou a coisa desconhecida.

Observações sobre os pronomes interrogativos:

O pronome interrogativo “qual” é usado para distinguir uma pessoa, uma coisa ou uma qualidade dentre várias existentes.

Embora seja condenado por renomados estudiosos da língua portuguesa, o emprego da forma interrogativa “o que” é largamente usado em nossa língua.