ALGUMAS ORIENTAÇÕES PARA CELEBRAR BEM A QUARESMA
De maneira semelhante como o antigo povo de Israel partiu durante quarenta anos pelo deserto para ingressar na terra prometida, a Igreja, o novo povo de Deus, prepara-se durante quarenta dias para celebrar a Páscoa do Senhor. Embora seja um tempo penitencial, não é um tempo triste e depressivo. Trata-se de um tempo especial de purificação e de renovação da vida cristã para poder participar com maior plenitude e gozo do mistério pascal do Senhor.
A Quaresma é um tempo privilegiado para intensificar o caminho da própria conversão. Este caminho supõe cooperar com a graça, para dar morte ao “homem velho” que atua em nós. Trata-se de romper com o pecado que habita em nossos corações, nos afastar de todo aquilo que nos separa do Plano de Deus, e por conseguinte, de nossa felicidade e realização pessoal.
As celebrações mais importantes do tempo da Quaresma são:
Quarta-feira de cinzas, através da qual abrimos o tempo de preparação pascal: “Convertei-vos, e crede no Evangelho” (Mc 1,15).
Depois temos cinco domingos da Quaresma, nos quais as comunidades se reúnem para celebrar a presença viva do Senhor que nos mostra o caminho para a vitória definitiva da Páscoa. São cinco etapas de preparação para a festa da Páscoa.
Depois vem o Domingo de Ramos da Paixão do Senhor, no qual lembramos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, onde Ele sofrerá a paixão e mergulhará na morte, para depois ressuscitar vitorioso.
Ainda como parte da Quaresma, se celebra na Quinta-feira Santa a missa dos Santos Óleos ou em outro dia da Semana Santa de acordo com a realidade de cada diocese.
Nas comunidades, durante a Quaresma, fazem-se também celebrações penitenciais, como sinais da nossa busca de conversão e da misericórdia de Deus que nos acolhe em seu perdão.
Seria também interessante organizar a oração do Ofício Divino das Comunidades, exercícios quaresmais, Via Sacra, a caridade, o amor ao próximo e também caminhadas penitenciais, etc.
AMBIENTE: O ambiente deve estar despojado a austero. “A austeridade dos elementos com que se apresenta nestes dias a igreja (o templo), contraposta à maneira festiva com que se celebrará a Páscoa e o tempo pascal, ajudará a captar o sentido de passagem” (páscoa = passagem) que têm as celebrações deste ciclo.
Devemos “fazer uma limpeza” de tudo o que é supérfluo no espaço celebrativo, como cartazes, folhagens, fitas, adornos, faixas, muitas imagens, etc. Os exageros de enfeites causam uma verdadeira poluição visual, e é preciso achar um lugar para pousar o olhar e contemplar. Por outro lado, devemos valorizar e destacar o que é realmente essencial para a celebração do Mistério de Cristo, isto é, o altar, a mesa da Palavra, a cadeira presidencial e a pia batismal. Durante a Quaresma outros símbolos fortes são importantes, como a cruz, a cor roxa e outros próprios para cada celebração.
Durante a Quaresma há que suprimir as flores em todos os espaços celebrativos. É aceitável uma planta tipo cáquito por ser mais sóbria. Suprimir também os tapetes não necessários etc... No IV Domingo, “Domingo Laetare” pode ser usado algumas flores e instrumentos para acompanhar os cantos. Cuidado com a extravagância, pois ainda não é Páscoa!!!
Usa-se a cor rosa (“róseo”) no Domingo Laetare – quarto Domingo da Quaresma, “próximo ao grande dia”.
Durante a Celebração Eucarística ou mesmo na Celebração da Palavra, o Altar seja coberto com toalha branca. Fora da celebração, se quiser, pode cobri-lo com um tecido roxo.
SOBRIEDADE: A equipe procure caracterizar o ambiente e organizar toda a celebração dentro do espírito de sobriedade (cor roxa, sem flores, sem glória, sem aleluia e sem o canto de louvor a Deus após a comunhão). Isso não quer dizer que o ambiente seja de tristeza. A fé cristã une numa mesma celebração a dor e a alegria, a luta e a festa. Celebramos a liturgia com palavras, gestos, cantos, orações e símbolos. Celebramos com nosso corpo, com nossos sentimentos, com nossa atitude espiritual.
CARTAZ DA CF: Apresentar o cartaz no momento da abertura oficial da Campanha da Fraternidade e depois fixá-lo na entrada da igreja e em outros ambientes onde ele possa ser bem visualizado. Não se deve fixar o cartaz no altar ou na mesa da Palavra.
A Via-Sacra, geralmente feita nas sextas-feiras, seja um momento de catequese, oração e penitência. Pode utilizar a criatividade para que seja de fato uma experiência da caminhada com Jesus nos calvários atuais. Alguns lugares fazem Via-sacra nas ruas, nas escolas, nas casas etc.
As Imagens: existem costumes variados. Lugares que as cobrem na Quarta-feira de cinzas até a Vigília Pascal. Outros após a Missa do Sábado que precede o Domingo de Ramos. Ou ainda na Quinta-feira Santa. É bom que faça o gesto de cobrir as Imagens. Se possível, no início da Quaresma.
CINZAS E ÁGUA PARA ASPERSÃO: Preparar as cinzas com antecedência, se possível com os ramos entregues no Domingo de Ramos do ano anterior. As cinzas e os recipientes com água para a aspersão deverão ser preparados na credencia e não em cima do altar. A imposição das cinzas pode ser feita na cabeça ou na testa de cada pessoa que se aproxima.
SINO: O sino das Igrejas também silenciam na Quarta-feira de Cinzas e voltam a tocar no momento do canto do Glória na Vigília Pascal. Se tiver sino eletrônico, deixe-o apenas para marcar as horas durante o dia. Nas celebrações ele devem se manter silenciosos.
SILÊNCIO / CANTOS / INSTRUMENTOS: Na Quaresma se retoma o silêncio, as celebrações são mais silenciosas, sóbrias, austera. Não deve ter baterias e instrumentos de percussão. É o silêncio que predomina. Para ajudar nessa vivência, é aconselhável também que, se for possível, evite na Quaresma tocar instrumentos musicais. Não se usa música instrumental, a menos que seja para sustentar o canto. Na Quinta-feira Santa após a celebração os instrumentos devem permanecer guardados até o Glória na Vigília Pascal. Se tiver mesmo a necessidade, use um instrumento que faça o acompanhamento, pois o que deve predominar nestes dias é a voz do povo como instrumento principal. Observem que, não basta só saber que os cantos são da Quaresma, é preciso executá-los com atitude espiritual.
Não basta só ter consciência de que devemos cantar os cantos próprios da Quaresma. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual condizentes com o tempo e com cada domingo, ajudam a comunidade a penetrar no mistério celebrado. Por isso, deve-se integrar tudo isso no mistério que estamos celebrando. É necessário “cantar a liturgia da Quaresma”, com cantos próprios para este tempo e para cada parte da celebração. Os cantos de encontros e de movimentos não são próprios para a celebração litúrgica.
“Cantar a Quaresma, é antes de tudo, cantar a dor que se sente pelo pecado do mundo que, em todos os tempos e de tantas maneiras, crucifica os filhos de Deus e prolonga, assim, a Paixão de Cristo... É um canto de luto, um canto sem “glória” e sem “aleluia”, um canto sem flores e sem as vestes da alegria, um canto “das profundezas do abismo” em que nos colocaram nossos pecados (Sl 130); um grito penitente de quem implora e suplica: “Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade, e conforme a vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade” (Sl 51). (Hinário Litúrgico – 2, introdução, página 5).
O hino da Campanha da Fraternidade pode ser cantado após a homilia, no ofertório ou após a comunhão depois de uns momentos de silêncio, também como canto final. Nunca deve ser canto de entrada. Além do hino da Campanha da Fraternidade, devemos dar maior importância aos cantos propostos pelo Hinário Litúrgico da CNBB, volume II. (Muitos desses cantos estão gravados nos cds Liturgia XIII e XIV da Paulus.)
Sobre o canto de entrada – deve ser penitencial e nos dias sexta-feira e nas duas últimas semanas, refere-se à cruz do Senhor. Portanto, terá que pôr muito cuidado em sua escolha.
Ato penitencial – Seria recomendável destacar, durante este tempo, esta parte da celebração. Poderiam, por exemplo, variar-se cada dia da semana as invocações e cantar diariamente – não limitar-se a rezar – o “Senhor tenha piedade”. É uma maneira singela de sublinhar o sentido penitencial destes dias. Outra possibilidade é fazer o rito da aspersão com água rezando ou cantando o Salmo 50 para substituir o ato penitencial.
Glória – deve ser omitido. Este hino, diz-se apenas nas solenidades e festas.
Salmo Responsorial – deve respeitar sempre na liturgia na Celebração da Palavra ou da Missa e não pode ser alegremente substituído por qualquer canto. Não nos cansaremos de dizer que o Salmo forma parte integral da Liturgia da Palavra; que é Palavra de Deus, e que a palavra divina nunca pode ser substituída por qualquer melodia que evidencia mais a palavra humana do que a Palavra Divina. É melhor que seja sempre cantado. Contudo, há a possibilidade de cantar apenas o refrão e recitar as estrofes. Se de tudo o salmista não souber cantar, que o recite de forma clara e compreensiva por todos.
Canto de Aclamação – não pode aparecer “Aleluia”. No livro de cantos existem opções com melodias que nos indicam que de fato estamos aclamando o Senhor que vai falar. Também a Campanha da Fraternidade pode sugerir cantos que contemplam este momento. Geralmente cada Domingo tem o versículo correspondente com o Evangelho do dia.
Ofertório – Poderíamos realizar esse momento de maneira bem simples, com um canto sóbrio manifestando nossa caridade com a Igreja e com os irmãos e irmãs. Interiormente nos dispomos a participar da mesa que Deus nos prepara no deserto desta Quaresma, no deserto de nossa vida, no deserto da vida da comunidade e no deserto da vida da sociedade em que vivemos... (Sl 78,19).
Abraço da Paz – Durante o Tempo da Quaresma, pode-se abolir o abraço da paz e retomá-lo na Vigília Pascal (Animação da Vida Litúrgica no Brasil, documento da CNBB nº 43, pág. 110, nº 313). Obs.: A oração pela Paz na Missa é do presidente da Celebração; o abraço da paz é opcional e móvel dentro da celebração.
O canto de comunhão – no momento de comungar não se trata de criar um ambiente quaresmal, mas sim acompanhar festivamente a procissão eucarística. Por isso é bom para este momento da Santa Missa escolher cantos alusivos ao convite eucarístico. Deve expressar o nós (Igreja) e não o eu.
Evitem-se as palmas. Se for cantar, por exemplo, “parabéns” que automaticamente o povo que bater palmas, é melhor evitar o canto até a Vigília Pascal. Substitua por um abraço fraterno e a récita da “Ave Maria”, por exemplo.
Por ora, apresento estas orientações. Com o desenrolar do tempo, vamos ver outras necessidades e dúvidas. Celebremos bem este tempo a fim de nos encontrar convertidos na Páscoa do Senhor.
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