O leitor Carlos Frederico do Valle Sá Moreira envia-nos a seguinte mensagem:
"Boa tarde, gostaria de consultar o Dr. José Maria da Costa quanto a uma 'palavra' na crônica do escritor Luis Fernando Veríssimo na página D12 do Caderno 2 do Estado de S. Paulo de 11 de janeiro de 2007. Quase no final do texto o autor lança a seguinte frase:
'A CIA terceirizou a tortura, levando suspeitos para serem interrogados por bárbaros úteis em países com norrau no assunto.' (grifo nosso)
Não se discute a importância do escritor, mas gostaria de saber o que pensa o professor da 'nacionalização' da expressão 'know how'. Sua utilização em inglês é um anglicismo bastante comum. Trata-se de um neologismo? O Autor teria autoridade para tanto? Grato."
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Norrau ou Know-how?
1) Um leitor afirma haver encontrado em texto literário de consagrado autor da atualidade a palavra norrau e indaga acerca da correção de seu emprego em lugar de know-how, original de língua inglesa.
2) Anote-se, de início, que, no idioma de origem, a expressão significa conhecimento prático, ou habilidade, ou ainda tecnologia para solucionar determinada situação. Exs.:
I) "As grandes companhias têm dinheiro, mas nem sempre têm o know-how para executar corretamente as tarefas";
II) "Eu posso operar computadores, mas não tenho know-how técnico a respeito deles".
3) Ora, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, por um lado, não registra a palavra norrau como integrante de nosso léxico. Por outro lado, o mesmo VOLP ordena que se escreva, quando necessário seu emprego, know-how, expressão essa que tal publicação insere entre as palavras estrangeiras, sendo um estrangeirismo na língua portuguesa. O VOLP também não registra palavras como xópin, xou, eslogã, uíquend e márquetin, supostos aportuguesamentos de shopping, show, slogan, weekend e marketing, devendo ser substituídos, quando possível, por centro comercial, espetáculo ou exibição, comercialização ou comércio, lema ou divisa e fim de semana.1
4) Com essas considerações de fato, observe-se, por oportuno, que a Academia Brasileira de Letras é o órgão que detém a delegação legal para determinar oficialmente quais palavras integram nosso léxico e qual sua grafia correta. Sua maneira de entender é a palavra oficial no idioma, e, desse modo, descabe toda e qualquer discussão acerca de outras possibilidades de uso dos mencionados vocábulos na atualidade.
5) Também é oportuno observar que os autores literários, por mais considerados que sejam, podem eventualmente polemizar a grafia mais adequada para um vocábulo e até mesmo aportuguesar a seu modo palavras e expressões estrangeiras. Sua postura, todavia, para nada servirá perante a posição oficial manifestada pela ABL em seu VOLP. Quando muito, tal conduta poderá servir para fornecer elementos para futura mudança de postura por parte da ABL, com a respectiva inclusão em edição futura do VOLP.
"Boa tarde, gostaria de consultar o Dr. José Maria da Costa quanto a uma 'palavra' na crônica do escritor Luis Fernando Veríssimo na página D12 do Caderno 2 do Estado de S. Paulo de 11 de janeiro de 2007. Quase no final do texto o autor lança a seguinte frase:
'A CIA terceirizou a tortura, levando suspeitos para serem interrogados por bárbaros úteis em países com norrau no assunto.' (grifo nosso)
Não se discute a importância do escritor, mas gostaria de saber o que pensa o professor da 'nacionalização' da expressão 'know how'. Sua utilização em inglês é um anglicismo bastante comum. Trata-se de um neologismo? O Autor teria autoridade para tanto? Grato."
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Norrau ou Know-how?
1) Um leitor afirma haver encontrado em texto literário de consagrado autor da atualidade a palavra norrau e indaga acerca da correção de seu emprego em lugar de know-how, original de língua inglesa.
2) Anote-se, de início, que, no idioma de origem, a expressão significa conhecimento prático, ou habilidade, ou ainda tecnologia para solucionar determinada situação. Exs.:
I) "As grandes companhias têm dinheiro, mas nem sempre têm o know-how para executar corretamente as tarefas";
II) "Eu posso operar computadores, mas não tenho know-how técnico a respeito deles".
3) Ora, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, por um lado, não registra a palavra norrau como integrante de nosso léxico. Por outro lado, o mesmo VOLP ordena que se escreva, quando necessário seu emprego, know-how, expressão essa que tal publicação insere entre as palavras estrangeiras, sendo um estrangeirismo na língua portuguesa. O VOLP também não registra palavras como xópin, xou, eslogã, uíquend e márquetin, supostos aportuguesamentos de shopping, show, slogan, weekend e marketing, devendo ser substituídos, quando possível, por centro comercial, espetáculo ou exibição, comercialização ou comércio, lema ou divisa e fim de semana.1
4) Com essas considerações de fato, observe-se, por oportuno, que a Academia Brasileira de Letras é o órgão que detém a delegação legal para determinar oficialmente quais palavras integram nosso léxico e qual sua grafia correta. Sua maneira de entender é a palavra oficial no idioma, e, desse modo, descabe toda e qualquer discussão acerca de outras possibilidades de uso dos mencionados vocábulos na atualidade.
5) Também é oportuno observar que os autores literários, por mais considerados que sejam, podem eventualmente polemizar a grafia mais adequada para um vocábulo e até mesmo aportuguesar a seu modo palavras e expressões estrangeiras. Sua postura, todavia, para nada servirá perante a posição oficial manifestada pela ABL em seu VOLP. Quando muito, tal conduta poderá servir para fornecer elementos para futura mudança de postura por parte da ABL, com a respectiva inclusão em edição futura do VOLP.
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