terça-feira, 5 de maio de 2020

Viagem à Gramática - Bairro da Morfologia (4)

Antônio é um padeiro muito distraído. Ele esquece o nome de tudo! Em frente ao forno, suas mãos vão sovando a massa. De tempos em tempos, o pessoal do balcão ouve um grito:
- Ei! Ficou pronto o...
Mas Antônio esquece o nome. Aí o pessoal grita de volta, para ajudar:

- Pãozinho!
- Bolo!
- Biscoito!

Já reparou que tudo no mundo tem nome? Você tem um nome, que seus pais lhe deram. Você está sentado na... cadeira, olhando para o... computador, com a mão no... nariz! A-há, peguei no flagra!
Substantivo é o nome de cada coisa.

Há várias maneiras de classificar um pãozinho: quanto ao sabor, pode ser doce ou salgado; pelo tamanho, pode ser grande ou pequeno. E também podemos dizer que ele é barato ou caro, se pensarmos no preço!


Do mesmo modo, um substantivo pode ser classificado como comum ou próprio, concreto ou abstrato.

Pão é um substantivo comum e concreto, Antônio é um substantivo próprio, felicidade é um substantivo abstrato. Sabe por quê?

Dê uma

Comum: quando dá nome a uma categoria de seres ou objetos, como pão, padeiro, homem, cadeira, computador, nariz.
OU
Próprio: quando dá nome a um representante em particular da categoria, como Antônio (um homem específico), Brasil (um país em particular). Se você chamasse seu nariz de Roberval, este seria um substantivo próprio.

Concreto: nomes de coisas que a gente pode tocar, como biscoito, Antônio, cadeira, ou seres imaginários, como fada, saci, mula-sem-cabeça.
OU
Abstrato: nomes para sentimentos, qualidades e ações, como felicidade, coragem, solidariedade.

Dica do Anjo Aurélio: fazendo uma associação com a informática, podemos dizer que substantivo concreto é hardware e substantivo abstrato é software.


De acordo com a formação, os substantivos podem ser:

Simples: quando são formados por apenas um radical. Por exemplo, casa, professor, computador.
OU
Composto: quando são formados por dois radicais. Por exemplo, beija-flor, guarda-chuva.

Derivado: quando têm origem em outras palavras, como padeiro (vem de pão), escolar (vem de escola), dentista, dentadura, dentina (vem de dente)
OU
Primitivo: quando dão origem a outras palavras, como pão, escola, dente.

Agora, repare que um mesmo substantivo pode ser comum, concreto, simples e derivado, como... padaria!

Gênero e Número dos Substantivos

A padaria do Antônio tem tantos substantivos gostosos que fica difícil escolher qual comprar.  Aqui vão algumas dicas:

Dica 1: Você prefere palavras do gênero feminino ou masculino? Se você prefere as do gênero feminino, leve a rosquinha, a baguete ou um pedaço da pizza de mussarela.

Compre o bolo, o pão-de-ló ou peça 100 gramas do salame, se você gosta mais das palavras do gênero masculino.

Dica 2: Você gosta mais de palavras no singular ou no plural? Se escolheu singular, leve apenas um item de cada coisa: uma baguete, um bolo ou um pão-de-ló.

Mas se você prefere o plural compre sempre mais de um item: três baguetes, cinco bolos, dois pães-de-ló.



Você percebeu que as palavras podem estar no gênero feminino ou no gênero masculino? É só prestarmos atenção no artigo: “A rosquinha” é uma palavra feminina, “o bolo” é uma palavra masculina. No entanto, existem palavras que podem ter os dois gêneros: o menino, a menina; o gato, a gata; o juiz, a juíza; o barão, a baronesa; o conde, a condessa.



O número do substantivo é singular, com apenas um item, ou plural, com dois ou mais itens. Geralmente a gente percebe que a palavra está no plural pois vemos sempre um “s”, no final: bolo, bolos; pão, pães.

Grau dos Substantivos

Não é preciso termômetro para medir o grau dos substantivos, não! O que você precisa perceber é se a palavra está normal, no diminutivo ou no aumentativo, ou seja, um copo d’água, um copinho d’água ou um copázio d’água?

A gente pode indicar o tamanho daquilo que estamos falando de duas formas:

Analítica: Pedimos ajuda aos adjetivos. (casa grande, casa pequena)
Sintética: Pedimos ajuda aos sufixos (-arão: casarão, -inha: casinha) ou até mesmo aos prefixos (super-, hiper-, mega-, mini-, micro-)

Dê só uma olhada nos sufixos mais comuns para criar

Aumentativos:

-aça: barcaça
-aço: balaço
-alha: gentalha, muralha
-ão: povão
-alhão: medalhão, bobalhão
-arão: casarão
-zarrão: homenzarrão
-eirão: vozeirão
-zão: pezão
-arra: bocarra
-ázio: copázio
-ona: mulherona
-orra: manzorra
-uça: dentuça
-aréu: fogaréu

Diminutivos:

-acho: riacho
-eco: jornaleco
-ejo: vilarejo
-eta: saleta, caderneta
-ico: namorico
-inho: livrinho
-inha: casinha
-zinho: irmãozinho
-zinha: irmãzinha
-ito: mosquito
-oca: engenhoca
-ote: caixote, serrote
-ulo: glóbulo
-ula: fórmula

Substantivos Coletivos

Existem substantivos que designam um conjunto de seres da mesma espécie. São chamados de coletivos. Em vez de dizer “obras de arte”, você pode dizer “acervo”. Use “arquipélago” no lugar de “ilhas”. Você percebeu como as palavras passam do plural (obras de arte) para o singular (acervo)?

Os substantivos coletivos podem ser de três tipos:

Específicos: o coletivo é próprio de uma espécie (matilha – apenas para designar “cães”)
Indeterminados: o coletivo pode ser usado para diversas espécies (bando – de crianças, de aves)
Numéricos: o coletivo exprime um número exato de seres (dezena, dúzia, século, milênio, década, novena, quarentena, trezena, hectare). Podem ser considerados numerais.



Veja alguns coletivos:

Acervo: obras de arte
Álbum: retratos, autógrafos, selos
Alcatéia: lobos
Antologia: textos
Arquipélago: ilhas
Arsenal: armas
Assembléia: de parlamentares, de membros de qualquer associação
Atlas: mapas
Buquê: flores
Cacho: bananas, uvas
Cáfila: camelos
Cardume: peixes
Coletânea: textos, canções
Colméia: abelhas
Constelação: estrelas
Cordilheira: montanhas
Discoteca: discos
Elenco: atores, artistas
Enxame: abelhas, marimbondos, vespas
Esquadra: navios de guerra
Esquadrilha: aviões
Exército: soldados
Fauna: animais
Flora: plantas ou vegetais
Fornada: pães
Frota: navios
Junta: médicos, examinadores
Júri: jurados
Molho: chaves
Nuvem: gafanhotos
Pinacoteca: quadros
Prole: filhos
Quadrilha: ladrões, bandidos
Ramalhete: flores
Rebanho: bois, carneiros, cabras
Réstia: cebolas, alhos
Tripulação: marinheiros ou aviadores
Tropa: soldados, animais de carga
Vara: porcos

- Que lugar cheiroso! - disse Tomás Nota, ao entrar na Perfumaria dos Adjetivos.
- Muito obrigado! - respondeu o perfumista. Escolha um perfume gostoso! Com qual cheiro você quer ficar?
- Não sei...
- Experimente um perfume floral! Você ficará com cheiro de roseiral. Ou um perfume francês... vai fazer o maior sucesso!
- Que perfume caro!
- Ah! Você é um sujeito avaro*... Por que você não experimenta aquele perfume azul-marinho? É mais baratinho. Tem também com aroma de melancia, o preferido da minha tia.
"Mas por que esse sujeito rima tanto?", pensou Tomás Nota. E chegou à seguinte conclusão: "Melhor um perfumista poético do que um perfumista ranzinza".





* Anjo Aurélio explica: "Avaro é uma pessoa do sexo masculino que não gosta de gastar dinheiro".




Dê uma olhada nas palavras destacadas.
Todas são adjetivos.
O adjetivo sempre dá uma qualidade ao substantivo. Por isso, geralmente um está pertinho do outro. Veja como um mesmo substantivo pode ganhar diferentes qualidades, de acordo com o adjetivo que o acompanha:

Perfume gostoso Perfume caro Perfume azul-marinho
Substantivo/ Adjetivo Substantivo/ Adjetivo Substantivo/ Adjetivo
Cada adjetivo dá uma qualidade diferente ao substantivo. Do mesmo modo que uma pessoa pode ter vários perfumes... mesmo que só use um de cada vez.

Vamos classificar alguns adjetivos da perfumaria?

Os adjetivos podem ser simples, quando são formados por uma só palavra.
Ou podem ser compostos, quando duas palavras os compõem.

Simples: cheiroso, francês, avaro, poético
Compostos: azul-marinho, mal-humorado

Por outro lado, podem ser derivados, quando são formados a partir de outra palavra.
Ou podem ser primitivos, quando não derivam de nenhuma palavra.
Primitivos: avaro
Derivados: cheiroso (vem de "cheiro"), francês (vem de "França"), mal-humorado (vem de "mau humor")

Como você deve ter reparado, os adjetivos podem ser, ao mesmo tempo, simples e primitivos, ou simples e derivados. Também podem ser compostos e derivados.

Os adjetivos também podem variar quanto ao gênero, número e grau.

Gênero: masculino/ feminino. Por exemplo: Que garoto cheiroso/ Que garota cheirosa.
Número: singular/ plural. Exemplo: Que cachorro cheiroso/ que cachorros cheirosos.
Grau: comparativo: que pode ser de igualdade, superioridade ou inferioridade/ superlativo: absoluto ou relativo. Observe:

Esse perfume é tão cheiroso quanto aquele. (Isso é uma comparação de igualdade)
Este perfume é mais cheiroso que aquele. (Isso é uma comparação de superioridade)
Este perfume é menos cheiroso do aquele (Isso é uma comparação de inferioridade)

Este perfume é cheirosíssimo. Este perfume é muito cheiroso. (O superlativo absoluto é um adjetivo que não está comparando duas coisas)
Este perfume é o mais caro de todos. (O superlativo relativo compara duas coisas)

Veja aqui alguns superlativos absolutos:

Ágil: agílimo
Agradável: agradabilíssimo
Amigo: amicíssimo
Capaz: capacíssimo
Célebre: celebérrimo
Cru: cruíssimo
Doce: dulcíssimo (docílimo é o superlativo de dócil)
Fácil: facílimo
Fiel: fidelíssimo
Frio: frigidíssimo
Livre: libérrimo
Magro: macérrimo
Simples: simplicíssimo
Terrível: terribilíssimo
Veloz: velocíssimo

Quando a qualidade do substantivo não cabe numa só palavra, acontece a locução adjetiva.
Podemos dizer perfume de flores, em vez de perfume floral. "De flores" é uma locução adjetiva.
Do mesmo modo, quando usamos perfume da França em vez de perfume francês, temos uma locução adjetiva.

*Anjo Aurélio explica: Quando o adjetivo expressa uma qualidade essencial, inerente ao ser, chama-se adjetivo explicativo. Quando o adjetivo expressa uma qualidade acidental, não própria do ser, chama-se adjetivo restritivo.

Quando o adjetivo expressa uma qualidade que independe de opinião, chama-se de adjetivo factual, objetivo ou neutro. Quando o adjetivo expressa uma qualidade que depende de julgamento ou ponto de vista, chama-se de adjetivo opinativo, subjetivo ou emocional.

Adjetivos Pátrios

O adjetivo pátrio identifica de que lugar é a pessoa, o animal ou o objeto de que se está falando.
Assim: “Perfume francês” (da França). “A carioca Sasha posou para fotos”.
(Carioca é um adjetivo que mostra que o substantivo Sasha nasceu na cidade do Rio de Janeiro)
Você conhece todos os adjetivos pátrios dos Estados do Brasil? Anote aí:
Quem nasce no Rio de Janeiro é fluminense;
Quem nasce em Minas Gerais é mineiro;
Quem nasce em São Paulo é paulista ou bandeirante;
Quem nasce no Paraná é paranaense;
Quem nasce em Santa Catarina é catarinense, barriga-verde;
Quem nasce no Rio Grande do Sul é gaúcho, rio-grandense-do-sul;
Quem nasce no Espírito Santo é capixaba e espírito-santense;
Quem nasce no Mato Grosso do Sul é mato-grossense-do-sul, sul-mato-grossense;
Quem nasce no Mato Grosso é mato-grossense;
Quem nasce em Goiás é goiano;
Quem nasce na Bahia é baiano, baiense;
Quem nasce em Sergipe é sergipano, sergipense;
Quem nasce em Alagoas é alagoano, alagoense;
Quem nasce em Pernambuco é pernambucano;
Quem nasce na Paraíba é paraibano;
Quem nasce no Rio Grande do Norte é potiguar, rio-grandense-do-norte, norte-rio-grandense;
Quem nasce no Ceará é cearense;
Quem nasce no Piauí é piauiense;
Quem nasce no Maranhão é maranhense;
Quem nasce em Rondônia é rondoniense, rondoniano;
Quem nasce no Acre é acreano, acriano;
Quem nasce no Amazonas é amazonense;
Quem nasce em Roraima é roraimense;
Quem nasce no Pará é paraense;
Quem nasce no Amapá é amapaense;
Quem nasce no Tocantins é tocantinense.

Dica do Anjo Aurélio: Não confunda adjetivos pátrios com gentílicos - o primeiro se refere a continentes, países, regiões, estados, cidades etc., e o segundo se refere somente a raças e povos. Logo, israelense é um adjetivo pátrio e israelita é um adjetivo gentílico.

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