quarta-feira, 20 de maio de 2020

Viagem à Gramática - Largo da Sintaxe (3)

Os auto-falantes da Rádio Vocativo espalhavam uma marchinha pelo Largo da Sintaxe:

"Ei! Você aí! Me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí!" E o locutor começava a falar, com sua voz de trombeta:

- Meus caros ouvintes, boa tarde!

- Dona Tereza, está na hora de pôr a mesa! Deixe a menina em paz, moleque travesso! Amigos, a Rádio Vocativo está no ar...

Então vieram os comerciais.

"Ei, você aí, compre Vocativo! Ele não tem função sintática, mas é uma expressão que serve para chamar alguém.

E você sempre precisa chamar alguém, não é?

- Manhê, o computador pifou!!!"

As palavras destacadas são vocativos.

Dica do Anjo Aurélio: Vocativo é um termo de natureza exclamativa que tem por função invocar ou interpelar um ouvinte, real ou hipotético. Pode vir precedido de interjeições de apelo. Por seu tom exclamativo, geralmente se relaciona à segunda pessoa do discurso. Sempre é separado por vírgulas.

Na análise sintática, tudo o que não é sujeito, é predicado. Por exemplo: "Tomás Nota queria comer alguma coisa". "Tomás Nota", como você sabe, é um sujeito simples. E "queria comer alguma coisa" é o predicado. Dentro do predicado é possível encontrar verbos e objetos.

Dica do Anjo Aurélio: Predicado é a informação que se dá a respeito do sujeito. Transitividade verbal só existe para verbos que expressam ação.

Os verbos podem ser:

Transitivos Diretos, quando necessitam de um complemento sem preposição, ou seja, transita diretamente para o objeto. Na oração “Tomás pediu”, não dá vontade de saber o que ele pediu?  Então, isto ocorre porque o verbo “pedir” é Transitivo Direto e a resposta desta pergunta é o Objeto Direto, “o cardápio”. “Tomás pediu o cardápio”.

Transitivos Indiretos, quando necessitam de um complemento com o auxílio de uma preposição, ou seja, transita indiretamente para o objeto. Na oração “Tomás acredita”, queremos saber em quem ele acredita. Com certeza, Tomás acredita em algo com preposição e “no garçom” é o Objeto Indireto da frase. “Tomás acredita no garçom”.

Intransitivos, quando não necessitam de complemento, ou seja, possuem sentido completo. “Ontem choveu”, “As folhas caem”, “ Maria chegou”. 

Dica do Anjo Aurélio: Verbos intransitivos podem vir acompanhados de qualidades, características ou circunstâncias.

De ligação, quando expressam estado, ligam o sujeito a uma característica deste mesmo sujeito. “Tomás é guloso”, “Tomás está faminto”.

O garçom ouviu a seguinte pergunta do nosso amigo:
- O que você tem aí para um sujeito como eu?
- Temos predicado verbal, predicado nominal e predicado verbo-nominal- respondeu o garçom.
Apesar de ser um sujeito simples, Tomás Nota era guloso:
- Quero todos.

O garçom se apressou para atender o faminto cliente, mas antes resolveu explicar o que viria no cardápio:

- O espeto verbal vem com orações com predicado verbal. O espeto nominal, que também está uma delícia, tem orações com predicado nominal. Mais gostosos ainda são os predicados verbo-nominais, que serão servidos em uma bandeja.


Hummm, você não gostaria de provar essas gostosuras agora?

Espeto verbal
As orações com predicado verbal vieram num espeto:
"Tomás Nota quer comer de tudo".
"Nevou no sul".
"Os noivos chegaram ao altar".
Estas orações têm o verbo como núcleo. Esses verbos exprimem ações, ou fenômenos naturais: "chegaram", "nevou", "quer comer" (locução verbal).

Espeto nominal
Num outro espeto, vieram os predicados nominais. Estes predicados sempre trazem uma qualidade do sujeito.
"Tomás Nota é guloso".
"Eu estou faminto".
"Continua capeta essa Cláudia".

Essas orações tem o predicativo como núcleo. "Guloso" é uma qualidade do "Tomás Nota". "Faminto" é uma qualidade do sujeito "Eu". E "capeta" é uma qualidade do sujeito "Cláudia".

Estas qualidades têm um apelido: predicativo do sujeito.

- Os verbos dos predicados nominais são chamados de verbos de ligação- explicou o distinto garçom. Como os verbos ser, estar, continuar, ficar, parecer, andar, permanecer, virar e tornar-se, que sempre exprimem uma qualidade do sujeito.

Bandeja verbo-nominal
Numa bandeja, o garçom trouxe os predicados verbo-nominais.
- Estes predicados têm sempre um predicativo e um verbo que é de ação.

Experimente:
"Onofre chegou exausto"
"Seu desempenho foi considerado excelente".
"Ernesto deu a Marilene um lindo coelho"

Essas orações têm o verbo e o predicativo como núcleo. Se você é muito observador, pode ter reparado que o predicativo da última frase não pertence ao sujeito, mas ao complemento. Tem um nome para isso: predicativo do objeto.

- Como é mesmo?, perguntou o distraído. Observe:

Ernesto= sujeito
Deu a Marilene um lindo coelho= predicado
Deu= Verbo dar (ação)
A Marilene= Objeto Indireto
Um lindo coelho= Objeto Direto

E qual é o predicativo nesta oração?
"Lindo"! É a qualidade do coelho.

Dica do Anjo Aurélio: O predicativo do objeto normalmente se refere ao objeto direto e, eventualmente, ao objeto indireto do verbo chamar: Chamei-lhe de patriota. (chamar = nomear)

Vozes do Verbo

A voz ativa de um verbo ocorre quando o sujeito da oração é aquele que executa a ação do verbo.

“Tomás pagou a conta”. (Nesta frase é o sujeito Tomás que pagou a conta, é ele quem executa a ação. Tomás é o sujeito agente e o verbo está na voz ativa).

A voz passiva de um verbo ocorre quando o sujeito da oração recebe a ação expressa pelo verbo.

“A conta foi paga por Tomás”.  (Nesta frase o verbo está na voz passiva, pois o sujeito é “a conta” que não pagou, não executou a ação, mas foi paga, recebeu a ação expressa pelo verbo. Assim, “a conta” é sujeito paciente).



*Anjo Aurélio dá uma dica: Para o verbo estar na voz passiva, ele precisa ter um verbo auxiliar e um verbo no particípio ou ser um verbo transitivo direto acompanhado do pronome “se”.

“A casa foi vendida” = verbo auxiliar (foi) + verbo no particípio (vendida) = Voz passiva analítica.
“Vende-se casa” = verbo transitivo direto (vender) + pronome (se) = Voz passiva sintética.

*Anjo Aurélio dá uma dica: Com verbos transitivos indiretos, intransitivos ou de ligação, não há voz passiva.

Analítico = composto
Sintético = contraído (resumido)

 

O verbo ainda pode ter Voz Reflexiva. É quando o sujeito pratica e sofre a ação ao mesmo tempo.

“Ela vestiu-se depressa.”
“Eu me esqueci de telefonar.”

*Anjo Aurélio dá uma dica: A voz é reflexiva quando a ação reflete no próprio sujeito. É chamada de recíproca quando a ação é mútua entre os sujeitos: Os convidados cumprimentaram-se.

Período Composto: Coordenação e Subordinação

Quando temos duas orações que estão ligadas, temos um período composto.
Estas orações podem ligar-se por Coordenação (quando as frases estão juntas, mas são independentes umas das outras e por Subordinação (quando uma frase depende da outra).

Coordenação

As orações coordenadas podem ser assindéticas quando não estão ligadas por conectivos (e, mas, que), mas por vírgulas.
Exemplo: “Chegou, sentou-se, ligou a televisão”.
As orações coordenadas são sindéticas quando estão ligadas por conectivos.
Exemplo: “Ando e procuro minha moeda”.

Estas orações coordenadas sindéticas ainda podem dividir-se em:

Aditivas: dão idéia de adição. “Ela lia o texto e sublinhava o importante”.
Adversativas: dão idéia de oposição. “Ela leu o texto, mas não sublinhou o importante”.
Alternativas: dão idéia de alternância. “Estude, ou assista a TV”.
Explicativas: dão idéia de explicação. “Estudarei muito, pois esta prova será difícil”.
Conclusivas: dão idéia de conclusão. “Estudei muito, portanto farei a prova com tranquilidade”.

 

Subordinação

Uma oração subordinada pode ser:
Substantiva Subjetiva: funciona como sujeito de um verbo que está na terceira pessoa do singular ou de um verbo que está na voz passiva.
É necessário que todos venham à aula amanhã.
Parece que Carlos está doente.
Foi decidido que não haverá aula amanhã.

Substantiva Objetiva Direta: toda a oração funciona como objeto direto do verbo da oração principal.
A professora esperava que nenhum aluno faltasse.
A professora explicou que amanhã não haverá aula.

Substantiva Objetiva Indireta: toda a oração funciona como objeto indireto do verbo da oração principal.
Os alunos necessitavam de mais explicações.

Substantiva Completiva Nominal: funciona como complemento nominal de algum substantivo, adjetivo ou advérbio da oração principal.
Ela tinha certeza de que ganharia uma bicicleta.

Substantiva Predicativa: funciona como predicativo do sujeito da oração principal que possui verbo de ligação.
Meu desejo é que você vença este campeonato.

Substantiva Apositiva: funciona como aposto da oração principal.
Meu desejo é este: que você ganhe este campeonato.

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Adjetiva Restritiva: funciona como um adjetivo que restringe o sentido da palavra a que se referem.
Os garotos que estudam pouco tiram notas baixas. (Somente os garotos que estudam pouco tiram notas baixas. Os que estudam muito tiram notas altas)

Adjetiva Explicativa: funciona como um adjetivo que explica um termo.
Os garotos, que estudam pouco, tiram notas baixas. (Todos os garotos estudam pouco e todos, sem exceção, tiram notas baixas.)

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Adverbial Temporal: dá idéia de tempo, momento. Não tem a ver com trovão, raio ou relâmpago.
Assim que eu saí, ele chegou.

Adverbial Causal: mostra a causa, razão da oração principal.
Ele ganhou o emprego porque foi o melhor entrevistado.

Adverbial Condicional: dá idéia de condição para a oração principal poder ser realizada.
Eu chegaria na hora marcada, se meu carro não quebrasse.

*Anjo Aurélio explica: Não confunda condição com concessão - a ideia de condição está ligada à hipótese, à causa que ainda não foi realizada, enquanto a concessão está ligada à ideia de contraste, quebra de expectativa.

Adverbial Proporcional: dá idéia de um fato que ocorreu ao mesmo tempo ao da oração principal.
Joana acelerava o passo à medida que a chuva aumentava.

*Anjo Aurélio explica: Não confunda proporção com comparação - a ideia de comparação está ligada à igualdade, superioridade ou inferioridade, enquanto a ideia de proporção está ligada a algo diretamente ou inversamente proporcional.

Adverbial Final: mostra a finalidade, a intenção, da oração principal. Não tem a ver com final de novela ou de terminal.
Joana correu da chuva para que não ficasse encharcada.

Adverbial Consecutiva: mostra a conseqüência, o efeito da oração principal.
Estudamos tanto que tiramos nota dez na prova de Matemática.

Adverbial Conformativa: dá idéia de concordância, conformidade com o pensamento expresso na oração principal.
A festa foi incrível conforme imaginávamos.

Adverbial Concessiva: exprimem idéia contrária ao fato expresso na oração principal, mas insuficiente para impedi-lo.
A festa foi incrível, ainda que tenha terminado cedo.

Adverbial Comparativa: exprimem comparação com a oração principal,
A prova de Português foi tão difícil quanto a de matemática.
 

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