quarta-feira, 20 de maio de 2020

Viagem à Gramática - Largo da Sintaxe (2)

Quarto simples | Quarto composto | Quarto oculto | Quarto indeterminado | Quarto inexistente

Na entrada da Pensão do Sujeito, Tomás Nota encontrou uma placa:

"A gente sempre está falando alguma coisa sobre alguém...
Aquela menina é minha vizinha 
Eu e meu tigre não queremos ir à escola.
Você sabe do que eu estou falando
 ...esse alguém é o sujeito!"

"Muito explicativo", pensou Tomás Nota.

Dica do Anjo Aurélio: Sujeito é a palavra ou conjunto de palavras que concorda com o verbo e é o ser a respeito do qual se dá uma informação.

Quarto Simples

- Ei, vem cá! 
Era Mané Sujeito que estava chamando. 
- Vem conhecer a Pensão do Sujeito. Vem, vem. 
E Tomás Nota seguiu Mané Sujeito. Como era no período da tarde, todos os sujeitos tinham ido trabalhar na construção de orações. 
 

No corredor da pensão havia várias portas. A primeira se abriu, e mostrou um quarto que só tinha uma cama. Mané Sujeito sussurrou: 
- Este é o quarto simples. Aqui dorme o sujeito simples. 
Havia algumas orações nas paredes, em folhinhas penduradas: 
"Jorge machucou as mãos."
"A noite está fria." 
"O corcunda é esquisito e amável."
- Está vendo? São orações que o sujeito simples ajudou a construir. Vamos olhar o quarto do sujeito composto, onde eu vou lhe contar um segredo.

uarto composto
E o amável Mané Sujeito abriu outra porta. Lá dentro, várias camas. 
- Este é o quarto composto - adivinhou Tomás Nota, onde dorme o sujeito composto. 

Os olhos de Mané Sujeito brilharam. 
- Exatamente. Agora olhe nas paredes.

Havia orações bem diferentes do que as penduradas no quarto do sujeito simples. 
"Júpiter, Vênus e Marte são planetas do sistema solar." 
"A mochila e os livros não cabem juntos na estante."
"Café e carros soltam fumaça."

Mané Sujeito começou a pular na frente de Tomás Nota, dizendo: 
- Este é o segredo! 
Acalmou-se e continuou: 
- Existe um núcleo do sujeito! Júpiter, Vênus, Marte: são vários núcleos para um só sujeito. É impossível haver dois sujeitos numa oração. 
Ele ainda acrescentou, depois de uma piscadinha: 
- O sujeito simples só tem um núcleo: "Jorge", "noite", "corcunda". O sujeito composto tem dois ou mais núcleos: "mochila, livros", "café, carros", "Júpiter, Vênus, Marte". 
Depois disso, continuaram o passeio pela Pensão do Sujeito. Mais um mistério seria revelado por Mané Sujeito.

Dica do Anjo Aurélio: O conceito de sujeito depende da forma, não do sentido. Não é o fato de o sujeito estar no plural que lhe confere a classificação de composto.

Quarto Oculto

Na parede do corredor havia um quadro. O Mané Sujeito moveu o quadro, e abriu-se na parede uma passagem secreta. 
- Oh! Tomás Nota ficou de queixo caído. Seus olhos arregalados falavam por ele. 
- Aqui é o quarto oculto, onde dorme o sujeito implícito - foi explicando Mané Sujeito- Ele se esconde, mas sempre descobrimos quem ele é. 
Em papéis jogados debaixo da cama, dava para ler as orações: 
"Estou apaixonado."
"Descobrimos o segredo."
"Nunca disseste a verdade."
Mané Sujeito garantiu: 
- É fácil descobrir o sujeito dessas orações. 
Era um desafio para Tomás Nota, que matutou um pouco e mandou: 
- Eu... "estou apaixonado". Este é o sujeito implícito: eu. 
- Nós... "descobrimos o segredo". Sujeito implícito: nós. 
- Tu... "nunca disseste a verdade". O sujeito implícito é: tu. 
E prosseguiram o passeio.

Dica do Anjo Aurélio: Preferimos a denominação sujeito implícito, pois a gramática aboliu o nome sujeito oculto, pois oculto significa que está escondido. Não está expresso na oração, mas se deduz do contexto.

Quarto indeterminado
- Este é o Quarto Indeterminado. Aqui dorme o sujeito indeterminado. Você nunca vai poder dizer quem é ele. Ou eles... - Mané Sujeito disse baixinho, com ar enigmático. 
Havia orações rabiscadas em papéis espalhados pelo chão. 
"Quebraram o vaso."
"Procura-se profissional com experiência."

- Quem quebrou o vaso, hein? Quem procura profissional com experiência, hein? 
Hein, hein?- ficou repetindo Mané Sujeito, cutucando o umbigo de Tomás Nota, que gritou: 
- Não sei! Não fui eu! Eles! Alguém! 
- Eles quem?- Mané Sujeito fez cara de inspetor de alunos. 
- Não sei! Sujeito indeterminado! 
- Isso mesmo! Agora, quero ver sua cara quando você conhecer o sujeito inexistente.

Dica do Anjo Aurélio: Há quatro formas de indeterminar o sujeito - verbo na 3ª pessoa do plural, sem referência, verbo no infinitivo impessoal, pronome 'você' como indeterminador do sujeito e verbo na 3ª pessoa do singular associado ao pronome 'se' (índice de indeterminação do sujeito).

Quarto Inexistente
E abriu a porta do corredor. A porta não dava para lugar nenhum. Era o quarto inexistente. 
- Aqui mora o sujeito inexistente - completou nosso anfitrião. 
Na porta do quarto inexistente, algumas anotações: 
"Choveu ontem."
"Há tempos que você não aparece."
"São seis e meia."
- Os verbos dessas orações são impessoais - segredou Mané Sujeito. Não admitem sujeito. São orações com sujeito inexistente. 
E, com seu vozeirão, cantou a Canção do Verbo Impessoal: 

"Haver para Existir ou Ocorrer
Para falar do passado com Haver e Fazer
Ser e Estar, para falar do tempo a passar
Verbos da natureza, como chover e nevar".
 
Dica do Anjo Aurélio: Os principais verbos impessoais são: haver (no sentido de existir, acontecer ou realizar-se), haver, fazer, ser, estar e passar (na indicação de temperatura, tempo decorrido, hora, data ou distância) e todos os verbos que indicam fenômenos da natureza (exceto quando usados em sentido figurado, têm sujeito). São impessoais também os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição de.

Se você perguntar 'quem choveu ontem? São Pedro?', a resposta fica sem coerência.

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