dúvida do leitor
O leitor Ricardo Ferreira envia a seguinte mensagem ao Gramatigalhas:
"Prezado professor, gostaria de saber se existe a palavra 'empossando', pois o VOLP registra algumas palavras formadas com o sufixo 'ando', tais como vestibulando e doutorando, mas não registra 'empossando'."
envie sua dúvida
1) Um leitor, partindo do princípio de que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, registra outros vocábulos de mesma terminação, como doutorando e vestibulando, indaga se existe empossando, que o VOLP não registra.
2) Ora, no que tange a esse e a outros vocábulos de estrutura similar, pode-se dizer que alguns entraram em nosso léxico – quer na língua culta, quer no linguajar jurídico – por influência erudita: colendo (de cultuar), despiciendo (de desprezar), dividendo (de dividir), educando (de educar), exequendo (de executar), interditando (de interditar), multiplicando (de multiplicar), legenda (de ler), agenda (de agir), oferenda (de oferecer ou ofertar), vitando (de evitar), venerando e reverendo.
3) Já outros se formaram por analogia, como bacharelando (de bacharel, do francês bachelier, ou bacheler) e vestibulando (sem correspondência em latim).
4) Luciano Correia da Silva (1991, p. 77) – que lembra a criação e a existência de outras palavras "à imagem dos gerundivos latinos", como "intransigendas roupas" de Castilho, "brancos véus das confessandas" de Alphonsus de Guimaraens e "não murchandas flores" de Machado de Assis – transcreve a lição de Gladstone Chaves de Melo, o qual "censura a criação abusiva de gerundivos como farmacolando, engenheirando, etc."
5) Também se posicionando contrariamente à vernaculidade e à possibilidade de uso de vocábulos assim formados, diz Domingos Paschoal Cegalla, com referência a odontolando, tratar-se de um "brasileirismo forjado para designar a pessoa que vai se graduar em odontologia", e acrescenta ser "palavra formada por analogia com doutorando e bacharelando, que se justificam por terem base verbal (doutorar-se, bacharelar-se)". Mas conclui tal autor: "Odontolando não deriva de verbo algum, pois não existe odontolar-se. É, portanto, vocábulo mal formado, como também o são farmacolando, agronomando, vestibulando, economando, professorando, etc. Ou seja, é uma invenção do povo. No entanto, o VOLP houve por bem registrá-las, dando seu uso generalizado. (1999, p. 293)"
6) Apesar da oposição de tal autor e de outros quanto à existência de diversas dessas palavras e à própria possibilidade de seu uso no vernáculo, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (2009, p. 31, 40, 296, 316, 364, 544, 592 e 839), que é o veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso idioma, registra normalmente palavras como agronomando (aquele que cursa Agronomia, ou está para nela graduar-se), alimentando (aquele que é credor de alimentos), doutorando (aquele que cumpre créditos e escreve tese para obter o título de doutor), engenheirando (aquele que cursa Engenharia, ou está para nela graduar-se), farmacolando (aquele que cursa Farmácia, ou está para nela graduar-se), mestrando (aquele que cumpre créditos e escreve dissertação com vistas à obtenção do título de mestre), odontolando (aquele que cursa Odontologia, ou está para nela graduar-se) e vestibulando (aquele que presta exames vestibulares para ingresso em cursos universitários).
7) Dessas lições, parece que se podem extrair duas importantes conclusões: a) apesar da objeção de alguns, a autoridade oficial da ABL, por via da edição do VOLP, permite o normal emprego de todos esses vocábulos acima listados; b) mais do que isso, a própria premissa lançada por quem tem a delegação oficial para listar as palavras existentes em nosso idioma estabelece uma norma segundo a qual, respeitadas as regras da respectiva formação, se podem criar validamente outros vocábulos em idênticas circunstâncias.
8) Reitere-se, agora com especificidade para o caso da consulta: a) costuma-se dizer – e com total verdade – que a ABL tem autoridade para listar oficialmente as palavras existentes em nosso idioma; b) e ela o faz por via da edição do VOLP; c) se um determinado vocábulo está nele registrado, não há o que discutir quanto a sua existência em nossa língua; d) ocorre, entretanto, que, para vocábulos formados à imagem dos gerundivos latinos, o VOLP, por um lado, recepcionou aqueles que entraram em nosso léxico por via erudita (como colendo, despiciendo, educando, exequendo, interditando, etc.); e) por outro lado, o VOLP aceitou, mesmo sem origem em gerundivos latinos, a formação de outros vocábulos já em nosso idioma (como agronomando, farmacolando, odontolando e vestibulando); f) mais do que avalizar a existência de tais vocábulos, o que fez o VOLP foi fixar a regra da possibilidade de formação de outros com mesma estrutura, desde que respeitadas as regras da respectiva formação; g) nessa última permissão linguística, reside exatamente a possibilidade de emprego de empossando, significando aquele que toma posse.
O leitor Ricardo Ferreira envia a seguinte mensagem ao Gramatigalhas:
"Prezado professor, gostaria de saber se existe a palavra 'empossando', pois o VOLP registra algumas palavras formadas com o sufixo 'ando', tais como vestibulando e doutorando, mas não registra 'empossando'."
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1) Um leitor, partindo do princípio de que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, registra outros vocábulos de mesma terminação, como doutorando e vestibulando, indaga se existe empossando, que o VOLP não registra.
2) Ora, no que tange a esse e a outros vocábulos de estrutura similar, pode-se dizer que alguns entraram em nosso léxico – quer na língua culta, quer no linguajar jurídico – por influência erudita: colendo (de cultuar), despiciendo (de desprezar), dividendo (de dividir), educando (de educar), exequendo (de executar), interditando (de interditar), multiplicando (de multiplicar), legenda (de ler), agenda (de agir), oferenda (de oferecer ou ofertar), vitando (de evitar), venerando e reverendo.
3) Já outros se formaram por analogia, como bacharelando (de bacharel, do francês bachelier, ou bacheler) e vestibulando (sem correspondência em latim).
4) Luciano Correia da Silva (1991, p. 77) – que lembra a criação e a existência de outras palavras "à imagem dos gerundivos latinos", como "intransigendas roupas" de Castilho, "brancos véus das confessandas" de Alphonsus de Guimaraens e "não murchandas flores" de Machado de Assis – transcreve a lição de Gladstone Chaves de Melo, o qual "censura a criação abusiva de gerundivos como farmacolando, engenheirando, etc."
5) Também se posicionando contrariamente à vernaculidade e à possibilidade de uso de vocábulos assim formados, diz Domingos Paschoal Cegalla, com referência a odontolando, tratar-se de um "brasileirismo forjado para designar a pessoa que vai se graduar em odontologia", e acrescenta ser "palavra formada por analogia com doutorando e bacharelando, que se justificam por terem base verbal (doutorar-se, bacharelar-se)". Mas conclui tal autor: "Odontolando não deriva de verbo algum, pois não existe odontolar-se. É, portanto, vocábulo mal formado, como também o são farmacolando, agronomando, vestibulando, economando, professorando, etc. Ou seja, é uma invenção do povo. No entanto, o VOLP houve por bem registrá-las, dando seu uso generalizado. (1999, p. 293)"
6) Apesar da oposição de tal autor e de outros quanto à existência de diversas dessas palavras e à própria possibilidade de seu uso no vernáculo, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (2009, p. 31, 40, 296, 316, 364, 544, 592 e 839), que é o veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso idioma, registra normalmente palavras como agronomando (aquele que cursa Agronomia, ou está para nela graduar-se), alimentando (aquele que é credor de alimentos), doutorando (aquele que cumpre créditos e escreve tese para obter o título de doutor), engenheirando (aquele que cursa Engenharia, ou está para nela graduar-se), farmacolando (aquele que cursa Farmácia, ou está para nela graduar-se), mestrando (aquele que cumpre créditos e escreve dissertação com vistas à obtenção do título de mestre), odontolando (aquele que cursa Odontologia, ou está para nela graduar-se) e vestibulando (aquele que presta exames vestibulares para ingresso em cursos universitários).
7) Dessas lições, parece que se podem extrair duas importantes conclusões: a) apesar da objeção de alguns, a autoridade oficial da ABL, por via da edição do VOLP, permite o normal emprego de todos esses vocábulos acima listados; b) mais do que isso, a própria premissa lançada por quem tem a delegação oficial para listar as palavras existentes em nosso idioma estabelece uma norma segundo a qual, respeitadas as regras da respectiva formação, se podem criar validamente outros vocábulos em idênticas circunstâncias.
8) Reitere-se, agora com especificidade para o caso da consulta: a) costuma-se dizer – e com total verdade – que a ABL tem autoridade para listar oficialmente as palavras existentes em nosso idioma; b) e ela o faz por via da edição do VOLP; c) se um determinado vocábulo está nele registrado, não há o que discutir quanto a sua existência em nossa língua; d) ocorre, entretanto, que, para vocábulos formados à imagem dos gerundivos latinos, o VOLP, por um lado, recepcionou aqueles que entraram em nosso léxico por via erudita (como colendo, despiciendo, educando, exequendo, interditando, etc.); e) por outro lado, o VOLP aceitou, mesmo sem origem em gerundivos latinos, a formação de outros vocábulos já em nosso idioma (como agronomando, farmacolando, odontolando e vestibulando); f) mais do que avalizar a existência de tais vocábulos, o que fez o VOLP foi fixar a regra da possibilidade de formação de outros com mesma estrutura, desde que respeitadas as regras da respectiva formação; g) nessa última permissão linguística, reside exatamente a possibilidade de emprego de empossando, significando aquele que toma posse.
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