1) O fulcro da questão é buscar resolver a concordância verbal em exemplos como "Noventa por cento viajaram", em que se pergunta: põe-se o verbo no singular ou no plural?
2) De acordo com lição de José de Nicola e Ernani Terra, "quando o sujeito é uma expressão que exprime porcentagem, o verbo deverá concordar com o numeral". Exs.: a) "Um por cento deixou a cidade"; b) "Trinta por cento deixaram a cidade".
3) Aduzem, por outro lado, tais autores que, "caso a expressão que indica porcentagem venha acompanhada de partitivo, pode-se fazer a concordância com a expressão partitiva. Exs.: a) 'Um por cento dos alunos faltaram'; b) 'Setenta por cento do time não apresentava boas condições físicas'".
4) Para Laurinda Grion, em casos que tais, por serem sujeitos formados por números percentuais, "a concordância do verbo se faz com o numeral": a) "Sessenta por cento dos empregados horistas estão contentes com as refeições servidas no almoço"; b) "Apenas dez por cento aprovam a atuação do serviço de restaurante"; c) "30% aprovam o plano"; d) "1% desconhece o assunto".
5) Já para Antonio Henriques, em tais casos, "o que determina a concordância é o partitivo": a) partitivo no singular, verbo singular: "90% do STF aplica bem a Justiça"; b) partitivo no plural, verbo plural: "90% dos Juízes aplicam bem a Justiça".
6) E, se não há partitivo, a concordância faz-se com o número: a) número singular, verbo singular: "Um por cento é pobre"; b) número plural, verbo plural: "Noventa por cento são ricos".
7) Para Luiz Antônio Sacconi, em tais casos, se se emprega o verbo ser em locução na voz passiva, dá-se a concordância com o partitivo (complemento). Exs.: a) "Vinte por cento da população está desempregada" (correto); b) "Vinte por cento dos trabalhadores estão desempregados" (correto).
8) Idêntico é o raciocínio para outros casos — mesmo sem locução na voz passiva - em que a concordância se faz com o adjunto (complemento) desse sujeito indicador de número percentual. Exs.: a) "Noventa por cento da imprensa defende o governo"; b) "Noventa por cento dos jornalistas defendem o governo".
9) Acresça-se, porém, a lição do professor Silveira Bueno, que indaga qual das duas concordâncias é correta: Oitenta por cento do eleitorado votou ou oitenta por cento do eleitorado votaram? E passa a responder tal gramático: "Oitenta por cento aqui são oitenta eleitores em cada porção de cem eleitores. Ora, se são oitenta eleitores, temos, evidentemente, um sujeito plural; se temos sujeito plural, o verbo deverá concordar com ele em número e pessoa, indo também para a terceira pessoa do plural".
10) E dá tal autor, em seguida, como correta, a construção: "Oitenta por cento do eleitorado votaram".
11) Luiz Antônio Sacconi, por sua vez, formula uma primeira regra, segundo a qual, se o número percentual se pospõe ao verbo, a concordância se fará normalmente com o número. Exs.: a) "Estão perdidos 50% da lavoura de café"; b) "Ficaram alagados 10% da cidade".
12) Em segunda norma, acrescenta tal gramático que "o plural também será obrigatório se o número percentual vier determinado por artigo ou pronome". Exs.: a) "Os 37% da produção serão exportados"; b) "Estes 15% da população morreram como consequência do terremoto".
13) Em adendo, observa que, se o número percentual for representado pela unidade, a concordância pode ser feita ou com o número percentual ou com seu complemento. Exs.: a) "Apenas 1% dos filmes requisitados chegou"; b) "Apenas 1% dos filmes requisitados chegaram".
14) Arnaldo Niskier, de seu lado, parte de três exemplos: a) "Quarenta por cento da vitória se devem a Pelé"; b) "Quarenta por cento da vitória se deve a Pelé"; c) "Esses dez por cento da arrecadação foram aplicados em Educação".
15) Deles, extrai tal autor as regras de seu entendimento: a) "com número percentual a concordância pode ser com o número" (quarenta — se devem); b) em tal caso, a concordância também pode dar-se "com a expressão que a ele se segue (o que normalmente se recomenda devido à eufonia)" (da vitória — se deve); c) "quando, no entanto, o número percentual é determinado, a única concordância possível é com o próprio número" (esses dez por cento — foram aplicados).
16) Ante tais divergências entre os autores, já aplicado o princípio de que, na dúvida, há liberdade para o usuário (in dubiis, libertas), podem-se resumir do seguinte modo as regras atinentes à questão da concordância verbal com a expressão por cento: a) Quando não há termo especificador, a concordância se faz com o numeral ("Um por cento faltou"; "Vinte por cento se ausentaram"); b) Quando a expressão indicativa de porcentagem se faz acompanhar de um termo especificador, de um partitivo, a concordância pode ser feita com o número ou com o termo especificador, indistintamente ("Apenas 1% dos filmes requisitados chegou"; "Apenas 1% dos filmes requisitados chegaram"; "Noventa por cento da imprensa defende o governo"; "Noventa por cento da imprensa defendem o governo"); c) Em tais casos de dupla possibilidade de concordância, é preciso atentar à flexão do adjetivo que funcionar como predicativo ("Vinte por cento da população está desempregada"; "Vinte por cento dos trabalhadores estão desempregados"); d) Se o número percentual se pospõe ao verbo, a concordância se faz normalmente com o número ("Estão perdidos 50% da lavoura de café"; "Ficou alagado 1% da cidade"); e) O plural será obrigatório, se o número percentual vier determinado por artigo ou pronome ("Os 37% da produção serão exportados"; "Uns 15% da população morreram como consequência do terremoto").
17) No que concerne à concordância nominal em tais casos, lembrando que "os numerais flexíveis em gênero concordam com o substantivo a que se referem", leciona Domingos Paschoal Cegalla que, "pela lógica, deve-se dizer: 'Oitenta e duas por cento das mulheres trabalham fora de casa'. 'Trinta e uma por cento das crianças não frequentavam a escola'".
18) E justifica tal autor com o fato de que tais expressões significam "oitenta e duas mulheres entre cem; trinta e uma crianças entre cem".
19) De modo bem prático para o caso da consulta: I) "Um por cento das empresas sofreu fiscalização" (correto); II) "Um por cento das empresas sofreram fiscalização" (correto); III) "Noventa por cento das empresas sofreu fiscalização" (errado); IV) "Noventa por cento das empresas sofreram fiscalização" (correto); V) "Noventa por cento do bairro sofreu fiscalização" (correto); VI) "Noventa por cento do bairro sofreram fiscalização" (correto).
2) De acordo com lição de José de Nicola e Ernani Terra, "quando o sujeito é uma expressão que exprime porcentagem, o verbo deverá concordar com o numeral". Exs.: a) "Um por cento deixou a cidade"; b) "Trinta por cento deixaram a cidade".
3) Aduzem, por outro lado, tais autores que, "caso a expressão que indica porcentagem venha acompanhada de partitivo, pode-se fazer a concordância com a expressão partitiva. Exs.: a) 'Um por cento dos alunos faltaram'; b) 'Setenta por cento do time não apresentava boas condições físicas'".
4) Para Laurinda Grion, em casos que tais, por serem sujeitos formados por números percentuais, "a concordância do verbo se faz com o numeral": a) "Sessenta por cento dos empregados horistas estão contentes com as refeições servidas no almoço"; b) "Apenas dez por cento aprovam a atuação do serviço de restaurante"; c) "30% aprovam o plano"; d) "1% desconhece o assunto".
5) Já para Antonio Henriques, em tais casos, "o que determina a concordância é o partitivo": a) partitivo no singular, verbo singular: "90% do STF aplica bem a Justiça"; b) partitivo no plural, verbo plural: "90% dos Juízes aplicam bem a Justiça".
6) E, se não há partitivo, a concordância faz-se com o número: a) número singular, verbo singular: "Um por cento é pobre"; b) número plural, verbo plural: "Noventa por cento são ricos".
7) Para Luiz Antônio Sacconi, em tais casos, se se emprega o verbo ser em locução na voz passiva, dá-se a concordância com o partitivo (complemento). Exs.: a) "Vinte por cento da população está desempregada" (correto); b) "Vinte por cento dos trabalhadores estão desempregados" (correto).
8) Idêntico é o raciocínio para outros casos — mesmo sem locução na voz passiva - em que a concordância se faz com o adjunto (complemento) desse sujeito indicador de número percentual. Exs.: a) "Noventa por cento da imprensa defende o governo"; b) "Noventa por cento dos jornalistas defendem o governo".
9) Acresça-se, porém, a lição do professor Silveira Bueno, que indaga qual das duas concordâncias é correta: Oitenta por cento do eleitorado votou ou oitenta por cento do eleitorado votaram? E passa a responder tal gramático: "Oitenta por cento aqui são oitenta eleitores em cada porção de cem eleitores. Ora, se são oitenta eleitores, temos, evidentemente, um sujeito plural; se temos sujeito plural, o verbo deverá concordar com ele em número e pessoa, indo também para a terceira pessoa do plural".
10) E dá tal autor, em seguida, como correta, a construção: "Oitenta por cento do eleitorado votaram".
11) Luiz Antônio Sacconi, por sua vez, formula uma primeira regra, segundo a qual, se o número percentual se pospõe ao verbo, a concordância se fará normalmente com o número. Exs.: a) "Estão perdidos 50% da lavoura de café"; b) "Ficaram alagados 10% da cidade".
12) Em segunda norma, acrescenta tal gramático que "o plural também será obrigatório se o número percentual vier determinado por artigo ou pronome". Exs.: a) "Os 37% da produção serão exportados"; b) "Estes 15% da população morreram como consequência do terremoto".
13) Em adendo, observa que, se o número percentual for representado pela unidade, a concordância pode ser feita ou com o número percentual ou com seu complemento. Exs.: a) "Apenas 1% dos filmes requisitados chegou"; b) "Apenas 1% dos filmes requisitados chegaram".
14) Arnaldo Niskier, de seu lado, parte de três exemplos: a) "Quarenta por cento da vitória se devem a Pelé"; b) "Quarenta por cento da vitória se deve a Pelé"; c) "Esses dez por cento da arrecadação foram aplicados em Educação".
15) Deles, extrai tal autor as regras de seu entendimento: a) "com número percentual a concordância pode ser com o número" (quarenta — se devem); b) em tal caso, a concordância também pode dar-se "com a expressão que a ele se segue (o que normalmente se recomenda devido à eufonia)" (da vitória — se deve); c) "quando, no entanto, o número percentual é determinado, a única concordância possível é com o próprio número" (esses dez por cento — foram aplicados).
16) Ante tais divergências entre os autores, já aplicado o princípio de que, na dúvida, há liberdade para o usuário (in dubiis, libertas), podem-se resumir do seguinte modo as regras atinentes à questão da concordância verbal com a expressão por cento: a) Quando não há termo especificador, a concordância se faz com o numeral ("Um por cento faltou"; "Vinte por cento se ausentaram"); b) Quando a expressão indicativa de porcentagem se faz acompanhar de um termo especificador, de um partitivo, a concordância pode ser feita com o número ou com o termo especificador, indistintamente ("Apenas 1% dos filmes requisitados chegou"; "Apenas 1% dos filmes requisitados chegaram"; "Noventa por cento da imprensa defende o governo"; "Noventa por cento da imprensa defendem o governo"); c) Em tais casos de dupla possibilidade de concordância, é preciso atentar à flexão do adjetivo que funcionar como predicativo ("Vinte por cento da população está desempregada"; "Vinte por cento dos trabalhadores estão desempregados"); d) Se o número percentual se pospõe ao verbo, a concordância se faz normalmente com o número ("Estão perdidos 50% da lavoura de café"; "Ficou alagado 1% da cidade"); e) O plural será obrigatório, se o número percentual vier determinado por artigo ou pronome ("Os 37% da produção serão exportados"; "Uns 15% da população morreram como consequência do terremoto").
17) No que concerne à concordância nominal em tais casos, lembrando que "os numerais flexíveis em gênero concordam com o substantivo a que se referem", leciona Domingos Paschoal Cegalla que, "pela lógica, deve-se dizer: 'Oitenta e duas por cento das mulheres trabalham fora de casa'. 'Trinta e uma por cento das crianças não frequentavam a escola'".
18) E justifica tal autor com o fato de que tais expressões significam "oitenta e duas mulheres entre cem; trinta e uma crianças entre cem".
19) De modo bem prático para o caso da consulta: I) "Um por cento das empresas sofreu fiscalização" (correto); II) "Um por cento das empresas sofreram fiscalização" (correto); III) "Noventa por cento das empresas sofreu fiscalização" (errado); IV) "Noventa por cento das empresas sofreram fiscalização" (correto); V) "Noventa por cento do bairro sofreu fiscalização" (correto); VI) "Noventa por cento do bairro sofreram fiscalização" (correto).
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