1) Em expressões como "Viva o rei!", surgem problemas, quando o substantivo está no plural: "Viva os reis!" ou "Vivam os reis!"?
2) Para Antenor Nascentes, trata-se de interjeição: "Viva os Estados Unidos!"1, do que decorreria a conclusão de que se trataria de palavra invariável.
3) Para Domingos Paschoal Cegalla, que acaba por não se posicionar acerca da correção ou erronia do modo de expressão, mas parecendo inclinar-se para a tese da invariabilidade, "o povo sente a palavra viva como interjeição de aclamação, portanto, invariável"; e complementa tal autor que, "aliás, em francês se usa de preferência o singular: Vive les vacances!".2
4) Após observar que alguns gramáticos classificam esse vocábulo como interjeição, hipótese em que é invariável, enquanto outros a inserem na categoria dos verbos, caso em que a fazem variar de acordo com o respectivo sujeito, leciona Luís A. P. Vitória que "fica, pois, ao arbítrio de cada um escolher a forma que mais lhe aprouver".3
5) Não parece defensável, todavia, classificar viva como interjeição nesses casos, quer porque lhe falta o sentido vago e extragramatical próprio de tal categoria de palavras, quer porque a força exclamativa reside na oração como um todo, e não na palavra isoladamente.
6) Em realidade, o mais adequado é concluir que o sentido da expressão é optativo, indicador de uma vontade expressa por quem diz a frase: "Eu desejo que o rei viva", ou, simplesmente, "Que viva o rei!"4; do que decorre o plural "Eu desejo que os reis vivam", ou, simplesmente, "Que vivam os reis!".
7) Alfredo Gomes equipara o exemplo "Viva a República Brasileira!", sem qualquer complementação, simplesmente a "Viva meu pai longos anos", observando apenas que ambos os exemplos constituem hipóteses em que o sujeito substantivo vem depois do verbo5, assertiva essa de que se extrai a conclusão de que tais frases, com o sujeito no plural, assim ficariam: "Vivam as Repúblicas sul-americanas!" e "Vivam nossos pais longos anos".
8) De Arnaldo Niskier é a seguinte síntese: "Os verbos viver e morrer nas frases exclamativas devem concordar normalmente com o sujeito; são verbos e não interjeições. Caso se substitua o verbo viver pelo termo salve, este será uma verdadeira interjeição e portanto não poderá ir para o plural". Exs.: a) "Viva o Sol!"; b) "Vivam as férias!"; c) "Morram os nazistas!".6
9) Para Silveira Bueno, no exemplo "Vivam os índios!" – que equivale à frase optativa (ou desiderativa) "Que os índios vivam" – , sendo vivam um verbo, deve ele ir para o plural".7
10) No entendimento de Laudelino Freire, "nas orações optativas assim construídas – 'Viva o Brasil', 'Morra a anarquia' – os sujeitos são respectivamente o Brasil, a anarquia".8
11) Sousa e Silva, sem comentários outros, afirma que tal vocábulo "concorda com o nome a que precede: 'Vivam nossos pais!'".9
12) Ante tais considerações, o mais adequado, então, é dizer "Vivam os reis!", harmonizando-se regularmente o sujeito com o seu verbo, como determinam as normas de concordância verbal, sendo tão flagrante a natureza verbal da palavra, que até lhe podemos encontrar, no caso, o antônimo morra. Exs.: a) "Viva o rei!"; b) "Vivam os reis!"; c) "Morra o rei!"; d) "Morram os reis!".
13) Quanto à expressão "Viva às férias", presente no Ateneu, de Raul Pompéia, anota Aires da Mata Machado Filho que tal autor "sentiu a natureza verbal da palavra viva. Mas, como lhe repugnou o plural, que o verbo exige, tratou de reduzir o sujeito a objeto direto, perpetrando, assim, um assassínio gramatical".10
14) Resuma-se o problema com lição do mesmo gramático citado, presente em outra obra: "A falta de costume de ver o verbo no plural é que induz à procura de explicações para o singular, onde só o plural é possível, em face das regras gramaticais".11
15) E se complemente com lição de José de Sá Nunes, o qual, a um consulente que lhe indagava se estava correta a expressão "Viva as férias!", respondeu de modo categórico: "Certa não está, pois o sujeito é as férias, com que deve concordar o verbo vivam. Quem diz 'viva as férias' perpetra solecismo. É correto dizer Salve os reis, pois em português, salve é interjeição porque perdeu o sentido verbal que tinha no latim".
16) Para confirmar seu ponto de vista, alinha tal autor significativos exemplos de abalizados escritores no sentido da lição por ele proferida: a) "Vivam as musas!" (Machado de Assis); b) "Vivam os bons e morram os maus" (Ernesto Carneiro Ribeiro); c) "Vivam todos esses intrépidos jacobinos da literatura" (Castilho).12
17) Em precisa lição – após observar que, em francês, o termo é verbo ("Vive la liberté!" – "Vivent les braves!"), mas em italiano, interjeição ("Viva i nostri benefattori!" – "Viva le donne oneste!"), acrescentando que "cada língua tem sua índole e quer-se respeitada" – anota o Padre José F. Stringari que, em orações desse tipo, no vernáculo, "o termo viva não é interjeição, mas sim verbo e, como tal, deve concordar com o sujeito: Viva o Brasil! Vivam os brasileiros!. O uso de viva como interjeição invariável se justifica por associação com o termo salve, que é interjeição em português por ter perdido o sentido verbal que tinha no latim. Portanto, dizemos: Salve os noivos! Salve os campeões!"
18) E exemplifica o padre gramático com textos de autores os mais abalizados: a) "Viva a minha amiga corça gentil!" (Machado de Assis); b) "Vivam os vivos!...Vivam as flores!... Vivam as musas!... Vivam os sineiros de outros anos!" (Machado de Assis).13
19) Para rematar, em lição que pode ser tomada como verdadeira síntese do assunto, de Silveira Bueno é o seguinte ensinamento para estruturas desse jaez: "Não devemos perder mais tanto tempo com cousas já decididas. Perante todos os luminares da filologia portuguesa está liquidado o caso: trata-se de orações optativas, em que o verbo viva deve concordar com o sujeito que se lhe segue imediatamente. Donde: Viva Tiradentes! Vivam os Inconfidentes!".14
2) Para Antenor Nascentes, trata-se de interjeição: "Viva os Estados Unidos!"1, do que decorreria a conclusão de que se trataria de palavra invariável.
3) Para Domingos Paschoal Cegalla, que acaba por não se posicionar acerca da correção ou erronia do modo de expressão, mas parecendo inclinar-se para a tese da invariabilidade, "o povo sente a palavra viva como interjeição de aclamação, portanto, invariável"; e complementa tal autor que, "aliás, em francês se usa de preferência o singular: Vive les vacances!".2
4) Após observar que alguns gramáticos classificam esse vocábulo como interjeição, hipótese em que é invariável, enquanto outros a inserem na categoria dos verbos, caso em que a fazem variar de acordo com o respectivo sujeito, leciona Luís A. P. Vitória que "fica, pois, ao arbítrio de cada um escolher a forma que mais lhe aprouver".3
5) Não parece defensável, todavia, classificar viva como interjeição nesses casos, quer porque lhe falta o sentido vago e extragramatical próprio de tal categoria de palavras, quer porque a força exclamativa reside na oração como um todo, e não na palavra isoladamente.
6) Em realidade, o mais adequado é concluir que o sentido da expressão é optativo, indicador de uma vontade expressa por quem diz a frase: "Eu desejo que o rei viva", ou, simplesmente, "Que viva o rei!"4; do que decorre o plural "Eu desejo que os reis vivam", ou, simplesmente, "Que vivam os reis!".
7) Alfredo Gomes equipara o exemplo "Viva a República Brasileira!", sem qualquer complementação, simplesmente a "Viva meu pai longos anos", observando apenas que ambos os exemplos constituem hipóteses em que o sujeito substantivo vem depois do verbo5, assertiva essa de que se extrai a conclusão de que tais frases, com o sujeito no plural, assim ficariam: "Vivam as Repúblicas sul-americanas!" e "Vivam nossos pais longos anos".
8) De Arnaldo Niskier é a seguinte síntese: "Os verbos viver e morrer nas frases exclamativas devem concordar normalmente com o sujeito; são verbos e não interjeições. Caso se substitua o verbo viver pelo termo salve, este será uma verdadeira interjeição e portanto não poderá ir para o plural". Exs.: a) "Viva o Sol!"; b) "Vivam as férias!"; c) "Morram os nazistas!".6
9) Para Silveira Bueno, no exemplo "Vivam os índios!" – que equivale à frase optativa (ou desiderativa) "Que os índios vivam" – , sendo vivam um verbo, deve ele ir para o plural".7
10) No entendimento de Laudelino Freire, "nas orações optativas assim construídas – 'Viva o Brasil', 'Morra a anarquia' – os sujeitos são respectivamente o Brasil, a anarquia".8
11) Sousa e Silva, sem comentários outros, afirma que tal vocábulo "concorda com o nome a que precede: 'Vivam nossos pais!'".9
12) Ante tais considerações, o mais adequado, então, é dizer "Vivam os reis!", harmonizando-se regularmente o sujeito com o seu verbo, como determinam as normas de concordância verbal, sendo tão flagrante a natureza verbal da palavra, que até lhe podemos encontrar, no caso, o antônimo morra. Exs.: a) "Viva o rei!"; b) "Vivam os reis!"; c) "Morra o rei!"; d) "Morram os reis!".
13) Quanto à expressão "Viva às férias", presente no Ateneu, de Raul Pompéia, anota Aires da Mata Machado Filho que tal autor "sentiu a natureza verbal da palavra viva. Mas, como lhe repugnou o plural, que o verbo exige, tratou de reduzir o sujeito a objeto direto, perpetrando, assim, um assassínio gramatical".10
14) Resuma-se o problema com lição do mesmo gramático citado, presente em outra obra: "A falta de costume de ver o verbo no plural é que induz à procura de explicações para o singular, onde só o plural é possível, em face das regras gramaticais".11
15) E se complemente com lição de José de Sá Nunes, o qual, a um consulente que lhe indagava se estava correta a expressão "Viva as férias!", respondeu de modo categórico: "Certa não está, pois o sujeito é as férias, com que deve concordar o verbo vivam. Quem diz 'viva as férias' perpetra solecismo. É correto dizer Salve os reis, pois em português, salve é interjeição porque perdeu o sentido verbal que tinha no latim".
16) Para confirmar seu ponto de vista, alinha tal autor significativos exemplos de abalizados escritores no sentido da lição por ele proferida: a) "Vivam as musas!" (Machado de Assis); b) "Vivam os bons e morram os maus" (Ernesto Carneiro Ribeiro); c) "Vivam todos esses intrépidos jacobinos da literatura" (Castilho).12
17) Em precisa lição – após observar que, em francês, o termo é verbo ("Vive la liberté!" – "Vivent les braves!"), mas em italiano, interjeição ("Viva i nostri benefattori!" – "Viva le donne oneste!"), acrescentando que "cada língua tem sua índole e quer-se respeitada" – anota o Padre José F. Stringari que, em orações desse tipo, no vernáculo, "o termo viva não é interjeição, mas sim verbo e, como tal, deve concordar com o sujeito: Viva o Brasil! Vivam os brasileiros!. O uso de viva como interjeição invariável se justifica por associação com o termo salve, que é interjeição em português por ter perdido o sentido verbal que tinha no latim. Portanto, dizemos: Salve os noivos! Salve os campeões!"
18) E exemplifica o padre gramático com textos de autores os mais abalizados: a) "Viva a minha amiga corça gentil!" (Machado de Assis); b) "Vivam os vivos!...Vivam as flores!... Vivam as musas!... Vivam os sineiros de outros anos!" (Machado de Assis).13
19) Para rematar, em lição que pode ser tomada como verdadeira síntese do assunto, de Silveira Bueno é o seguinte ensinamento para estruturas desse jaez: "Não devemos perder mais tanto tempo com cousas já decididas. Perante todos os luminares da filologia portuguesa está liquidado o caso: trata-se de orações optativas, em que o verbo viva deve concordar com o sujeito que se lhe segue imediatamente. Donde: Viva Tiradentes! Vivam os Inconfidentes!".14
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